quinta-feira, 15 de abril de 2010

ESSES BURROS, OS ALUNOS

O texto seguinte é composto exclusivamente, exceptuando o último parágrafo, por citações de professores do ensino superior inquiridos pelo I sobre a literacia dos seus alunos. É uma peça notável.
Sobre a escrita. É um "mal generalizado", "São raros os que conseguem organizar um pensamento e escrevê-lo sem incorrecções", "Na generalidade, escreve-se como se fala. Os alunos distorcem as palavras para permitir uma colagem entre a grafia e a fonética".
Sobre a oralidade. "Há uma enorme dificuldade de os alunos conseguirem responder a uma pergunta com princípio, meio e fim", “Incapacidade de começar e terminar uma frase, mantendo uma lógica coerente”, "frases incompletas sem um fio condutor", "é pobre" e o raciocínio "vago e disperso". "Logo, as intervenções orais são baseadas no improviso", "Até nos casos em que peço aos alunos para lerem textos em voz alta, a leitura é apressada sem pausas e com total desrespeito pelas vírgulas e parágrafos".
Sobre o interpretar. “Ler um texto e saber transmitir o que se retirou dessa leitura é uma habilidade de uma minoria”, "Em regra, o discurso é confuso e há uma tendência para complicar conceitos simples", “Prestar atenção ao que o professor diz durante a aula e tomar notas em simultâneo é outra tarefa que poucos conseguem desempenhar”, "Um desafio constante tem sido fazê-los primeiro ouvir, para depois escreverem pelas suas palavras, evitando que se caia num regime de ditado".
“Dez minutos é, por outro lado, o tempo máximo que dura a concentração de uma turma”, "Mais do que isso, os alunos começam a dispersar-se e não tenho outra alternativa senão fazer uma pausa.", "Há 15 anos demorava duas aulas para ensinar um módulo, hoje levo o dobro do tempo."
Sobre a aprendizagem. "Os alunos perdem a capacidade para compreender conceitos complexos", "A partir do momento em que não percebo o que querem transmitir, não posso avaliar os seus conhecimentos".
A perplexidade sobre este retrato apresentado pelos opinantes como representando a generalidade dos seus alunos no ensino superior, leva-me a pensar como se pode ser professor, bom professor, de um grupo que é percebido pelo próprio como um conjunto de analfabetos com o raciocínio embutido. Os professores, também do superior, são tão parte do problema como parte da solução.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem, vamos mas lá todos trabalhar no sentido de uma escola de qualidade logo a partir do jardim de infância. Professores, auxiliares de educação, pais e alunos, todos. Tem é de haver boa vontade de todas as partes.

Nuno disse...

Não se deve ser lá grande professor, nem tão pouco transmitir algo significante aos alunos quando as expectativas à partida são de um nível tão baixo. É a tal história da realização das profecias.
Penso que também seria interessante ouvir os mesmos professores falar sobre o que eles pensam estar na origem deste problema e o que recomendam para, senão corrigir, ao menos minimizar esta burrice quase crónica.
Confesso que esbocei um certo sorriso na parte dos ditados.