Naquela terra onde acontecem todas as coisas, havia um homem a quem tinham chamado Ídolo. O homem adorava o seu nome, toda a gente o tratava como Ídolo e habituou-se a esse tratamento. Onde quer que fosse era conhecido e reconhecido como Ídolo.
Chegava a algum lado e imensa gente o esperava, sabe-se como a gente gosta de ver um Ídolo. Os seus desejos eram ordens porque as pessoas, de uma forma geral, gostam de agradar aos Ídolos. Era apresentado com alguém verdadeiramente importante e ele próprio se surpreendia por ser tão considerado. O Ídolo não tinha consciência de como as pessoas precisam de ter Ídolos e por isso, sempre que encontram um, tratam-no bem.
Toda a gente queria chegar perto do Ídolo e ter o privilégio de uma palavra ou de um gesto da sua parte. O Ídolo aprendeu a comportar-se como as pessoas esperavam que um verdadeiro Ídolo se comportasse. A vida do Ídolo acabou por deixar de ser a sua vida, tornou-se no que os outros esperavam que fosse, aos poucos foi-se transformando num personagem, o Ídolo.
Um dia, o Ídolo, acordou com uma sensação estranha de que foi tendo gradual consciência, tinham-lhe roubado o nome que lhe tinham dado, já não era o Ídolo. Saiu desesperado em busca do nome e deparou com a gente a correr para um qualquer lado gritando, está ali o Ídolo. Ficou confuso e ainda interpelou alguns reclamando que era ele o Ídolo, não aquele outro que ali estava.
Ninguém lhe deu ouvidos, as pessoas já tinham outro Ídolo.
O Zé, nome que recuperou como seu, sobrevive ainda hoje contando a quem o quiser ouvir as histórias do tempo em que era Ídolo.
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