Provavelmente será o último texto que aqui coloco a propósito da tragédia que envolveu o Leandro. Como disse na altura, a conclusão do inquérito da Inspecção-geral da Educação no sentido de não ser possível estabelecer nexos de causalidade entre os factos divulgados e a morte do miúdo era mais do que provável. O inquérito também levantava a possibilidade da vigilância da escola, realizada por pessoas sob tutela da autarquia, poder não ter sido eficaz. O inquérito, há sempre mais um inquérito, conclui que eventuais falhas do porteiro têm atenuantes, há sempre atenuantes, pelo que eu creio que ainda se torna necessário continuar a investigar através de mais alguns inquéritos.
Faz parte do nosso funcionamento a necessidade de encontrar responsáveis, ou melhor, culpados, que permitam sossegar as nossas consciências e permitir que tudo continue na mesma.
Estranho, desculpem o humor negro, que ainda ninguém tenha referido a o papel que um Inverno especialmente chuvoso que aumentou exponencialmente o caudal do Tua teve na tragédia e que este inverno anormal se deverá às alterações climáticas decorrentes do aquecimento global de origem humana, este sim, o verdadeiro fenómeno responsável pela trágica morte do Leandro, sem água não há afogamento.
Voltando a um registo mais sério, o que me inquieta é que tragédias desta natureza pareçam nem sequer servir para questionar o que proporcionamos diariamente aos miúdos, a atenção que damos, ou não, aos seus sinais, a que sinais devemos estar atentos que nos ajudam a antecipar situações de mal-estar que possam ter desenvolvimentos negativos, que dispositivos de apoio e modelos de organização e funcionamento das escolas serão mais necessários e eficazes, etc., etc.
Tudo o resto estava bem, a responsabilidade será do porteiro, que, no entanto, tem atenuantes. Eu também acho que tem atenuantes, é apenas o porteiro e o que menos responsabilidades tem em tudo o que envolve o bem-estar dos miúdos.
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