sábado, 4 de outubro de 2008

A HISTÓRIA NÃO SE APAGA

Sei que não deveria, mas continuo a surpreender-me com o despudor e falta de memória da política em Portugal. Não, não estou a referir-me às inaceitáveis trapalhadas da distribuição de casas em Lisboa de que, até o cavaleiro andante da verticalidade, integridade e estatura ética, o zurzidor mor do reino, o impoluto e enorme Baptista Bastos beneficiou. Estou a referir-me ao discurso do Presidente Cavaco Silva. O senhor, a meu ver bem, referiu que “a falta de autonomia revelada por alguns dos nossos empresários e a sua tendência para o encosto ao Estado têm sido muito nocivas para a economia”, sublinhando ainda a forte dependência dos subsídios da mesma classe. Deixa-me perplexo. O Professor Cavaco Silva foi Chefe de Governo de Novembro de 85 a Outubro de 95 e Presidente da República desde Março de 2006. A entrada do país na então CEE, em Janeiro de 1986, levou à entrada de um enorme fluxo de verbas de apoio ao desenvolvimento, exactamente na altura em que o Professor Cavaco liderava o país. A criação de uma sociedade subsídio-dependente, que, obviamente não envolve só os empresários, foi fruto das políticas seguidas e dos modelos de desenvolvimento escolhidos o que, naturalmente, responsabiliza a classe política que tem dirigido os destinos do nosso jardim. Como é possível que alguém que liderou a história, para o melhor e para o pior, queira transformar-se num mero espectador e ainda opinar como se não tivesse nada a ver com o assunto. O meu pai sempre me disse, “se fizeres assume, a história de um homem não se apaga”.

1 comentário:

Anónimo disse...

Exmo. Senhor
Sou desde há umas poucas semanas um atento (passe a imodéstia) seguidor dos seus comentários. Tendo já por diversas vezes intimamente concordado consigo, apenas hoje senti o irreprimível impulso (e lá se vai a ponderação...) de exprimir a minha irrelevante concordância com o que, em boa e generosa hora, decidiu partilhar com os demais. Talvez por se tratar de uma das personagens - o senhor Silva,- a quem vejo como um dos maiores responsáveis pelo que é a contemporânea vida sem dignidade neste espaço geo-político a que chamam Portugal. E com isto não me quero eximir da responsabilidade pessoal que possa ter nesta indignidade (que faço eu, a não ser assistir impávido e sereno àquilo que tanto me incomoda?). Bem-haja pelo seu desinteresse (curioso o duplo sentido que esta palavra pode assumir). Com os melhores cumprimentos.