No meio da turbulência da crise e dos efeitos pesadíssimos que se antecipam, pode parecer supérfluo ou deslocado a referência ao estado calamitoso em que se encontra a gestão dos espaços museológicos portugueses, e que afecta manutenção, recursos humanos que assegurem a simples abertura, aumento de espólio, montagem de exposições e outros eventos, etc. Tudo isto aparece bem evidente num exaustivo trabalho do Público sobre esta matéria. Entendo, como certamente muitas outras pessoas, que dificuldades económicas obrigam a contenção mas com a mesma convicção, considero os bens de cultura como uma primeira necessidade. Para além disso, os problemas não são de agora e, em parte, resultam de modelos de gestão seguidos pela tutela, pelo que não adianta escudar-nos com a crise. Sem beliscar o que noutras áreas tem sido feito, parece importante sublinhar que, sendo finitos os recursos económicos, mais cuidadosa e pertinente tem de ser a sua aplicação. Assim, pensando no sub-investimento constatado nos espaços museológicos, acho que poderia ter sido atenuado se, por exemplo, se poupasse na construção de rotundas que, na sua maioria, não têm justificação técnica, antes parecendo resultado de uma rotundite que inflamou a gestão autárquica. Poderia poupar-se nos enormes custos de água, manutenção e sistemas de rega de espaços como o interior das próprias rotundas, se em espaços que não são de utilização pública mas apenas decorativos, se usassem espécies resistentes da flora portuguesa que são bem bonitas em vez da disparatada relva que poderia reservar-se para espaços de lazer. Poderia optar-se pela melhoria técnica, de piso e de segurança dos IPs em vez da multiplicação caríssima de auto-estradas, independentemente do modelo de gestão escolhido, porque não existem obras grátis. Nestas duas áreas, a título de exemplo, e sem envolver outras que podem ser consideradas de imprescindível realização, talvez se conseguisse o suficiente para evitar a triste e vergonhosa situação nos espaços museológicos portugueses.
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