domingo, 28 de setembro de 2025

OUTONO

 Chegou o Outono ao meu Alentejo, não só porque o calendário o determina, mas porque as tarefas mudam. Das do Verão mantém-se, por enquanto, alguma rega, apesar das noites já trazerem algumas branduras que refrescam as plantas.

Estamos no fim-de-semana da festa que comemora a Senhora D’Aires e confirmou-se a tradição, o Velho Zé Marrafa sempre a sublinhava, se não chovesse pela feira de Ferreira, certamente choveria na semana seguinte, a da Festa da Senhora D'Aires. E assim aconteceu, uma chuva não muito grada, bem chovida, sem muito vento que deixou a horta regada e o pasto molhado, mas a terra ainda não dará para fabricar.

É tempo de outra tarefa de Outono, apanhar as primeiras azeitonas, das mais gradas para conserva. Depois de uns dias debaixo da nascente, outro privilégio aqui do Monte, a água corrente rapidamente lhes tira o amargo, é só pôr sal, temperar e ... costumam ficar óptimas.

Para a semana temos as nozes, este ano muitas parecem estragadas, vamos ver o que dá. Vamos esperar pelas águas que o Outono certamente trará e que permitirão começar a fabricar a terra.

Sempre que acontece a festa da Senhora D’Aires me lembro de uma história já de alguns anos. Precisando de renovar o calçado de trabalho fui feirar. Nas bancas do calçado observava a oferta variada e procurava umas botas como as do costume, sola de pneu.

Um feirante ia sugerindo tudo o que lá tinha e às tantas pareceu perceber o que eu queria mesmo, botas com sola de pneu que já não se encontram muito facilmente. Foi à ponta da banca e traz-me com ar de vendedor satisfeito o produto que eu queria. Olhei para as botas um pouco desconfiado pois não pareciam ser as velhas botas com sola de pneu.

O vendedor mostra-me então que eram, sim senhor, o que eu queria. As botas tinham inscrito na sola, feita com borracha vulgaríssima, a marca "PENEU". Fiquei perplexo a olhar para as botas que, lá num cantinho, tinham ainda um discreto "made in China".

Arranjei uma desculpa e desandei esmagado pelo empreendedorismo de uma economia global. Botas com sola "PENEU", ainda não digeri, é de mais para mim numa feira do Alentejo.

E são assim os dias do Alentejo, agora no Outono.

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