Chegou o Outono ao meu Alentejo, não só porque o calendário o determina, mas porque as tarefas mudam. Das do Verão mantém-se, por enquanto, alguma rega, apesar das noites já trazerem algumas branduras que refrescam as plantas.
Estamos no fim-de-semana da festa
que comemora a Senhora D’Aires e confirmou-se a tradição, o Velho Zé Marrafa
sempre a sublinhava, se não chovesse pela feira de Ferreira, certamente
choveria na semana seguinte, a da Festa da Senhora D'Aires. E assim aconteceu,
uma chuva não muito grada, bem chovida, sem muito vento que deixou a horta regada e o pasto molhado,
mas a terra ainda não dará para fabricar.
É tempo de outra
tarefa de Outono, apanhar as primeiras azeitonas, das mais gradas para
conserva. Depois de uns dias debaixo da nascente, outro privilégio aqui do Monte, a água corrente rapidamente lhes tira o amargo, é só pôr sal,
temperar e ... costumam ficar óptimas.
Para a semana temos as nozes, este ano muitas parecem estragadas, vamos ver o que dá. Vamos esperar pelas águas que o Outono certamente trará e que permitirão começar a fabricar a terra.
Sempre que acontece a festa da Senhora D’Aires me lembro de uma história já de alguns anos. Precisando de renovar o calçado de trabalho fui feirar. Nas bancas do calçado observava a oferta variada e procurava umas botas como as do costume, sola de pneu.
Um feirante ia sugerindo tudo o
que lá tinha e às tantas pareceu perceber o que eu queria mesmo, botas com sola
de pneu que já não se encontram muito facilmente. Foi à ponta da banca e
traz-me com ar de vendedor satisfeito o produto que eu queria. Olhei para as
botas um pouco desconfiado pois não pareciam ser as velhas botas com sola de
pneu.
O vendedor mostra-me então que
eram, sim senhor, o que eu queria. As botas tinham inscrito na sola, feita com
borracha vulgaríssima, a marca "PENEU". Fiquei perplexo a olhar para
as botas que, lá num cantinho, tinham ainda um discreto "made in
China".
Arranjei uma desculpa e desandei
esmagado pelo empreendedorismo de uma economia global. Botas com sola
"PENEU", ainda não digeri, é de mais para mim numa feira do Alentejo.
E são assim os dias do Alentejo,
agora no Outono.
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