No Expresso encontra-se uma peça elucidativa da enorme dificuldade que muitas famílias sentem no acesso a creches para colocação dos filhos. Apesar do Programa Creche Feliz mantém-se a insuficiência de vagas como também acontece no acesso a salas de Jardim de Infância. Ainda não conseguimos atingir o objectivo definido para 2025, uma taxa de frequência de 90%, estava em 83% em 2024.
Em cima do início do ano lectivo
estima-se que 12000 crianças entre os três e os cinco anos sem vaga na educação
pré-escolar e, segundo o Ministro da Educação, existem concelhos com “mais de
1500 alunos” inscritos no portal de matrículas e que aguardam colocação. Serão 30
os municípios com mais dificuldade de responder às necessidades.
Entretanto, foi aprovado em
Conselho de Ministros uma verba de 42,5 milhões de euros destinados à
celebração de acordos com os municípios para criação de vagas de educação
pré-escolar, para os anos lectivos de 2025/2026 a 2027/2028 sendo que esta
iniciativa contempla também os contratos de associação com estabelecimentos
particulares, cooperativos e solidários".
O Ministro da Educação esclareceu
que o apoio "a soluções temporárias" assumidas as pelos municípios
será de 42 mil euros por sala. Existirá também um apoio de 15000 euros por sala
atribuídos a estabelecimentos particulares, cooperativos ou do sector social.
Apesar deste cenário de carência
de lugares Portugal é um dos países com taxas mais elevadas de crianças a
frequentar a educação pré-escolar, obviamente, com um esforço enorme das
famílias.
A garantia do acesso à educação
pré-escolar em Portugal é aos 3 anos, uma posição intermédia no contexto
europeu. No entanto, a escolaridade obrigatória inicia-se aos seis anos tal
como na maioria dos países europeus e como sabemos existem fortes dificuldades
e assimetrias na resposta pública na educação pré-escolar o que explica os
custos elevadíssimos suportados pelas famílias.
Sou dos tenho alguma reserva face
à obrigatoriedade da frequência do jardim-de-infância aos três anos, mas
defendo a universalidade do acesso. Dito de outra maneira, nenhuma criança com
três anos deve ser obrigada frequentar jardim-de-infância, mas qualquer família
que precise de aceder a esta resposta deve ter acesso e em condições acessíveis
e com qualidade.
Assim, mais do que discutir sobre
o alargamento da escolaridade obrigatória a partir dos três anos importa, isso
sim, assegurar, a universalidade e acessibilidade da resposta o que ainda está
longe de ser conseguido como referi acima.
Sabemos que existem listas de
espera de creches e jardins-de-infância no chamado sector social em que as
mensalidades são indexadas aos rendimentos familiares. Esta situação afecta
sobretudo zonas mais urbanas e a alternativa da resposta privada é inacessível
para muitas famílias.
Acresce que para além da
dificuldade de encontrar respostas os custos elevados do acesso aos
equipamentos, boa parte privada ou da rede social, são dos mais altos no
contexto europeu de acordo com o relatório "Starting Strong 2017" da
OCDE e reforçados com o Education at a Glance 2024. Aliás, esta questão é
contributiva para a baixa natalidade tal como vários outros aspectos das
políticas públicas, designadamente as políticas de família.
Reafirmo as dúvidas sobre a
obrigatoriedade da frequência, mas tenho a maior convicção na necessidade de
garantir a universalidade do acesso à educação pré-escolar aos três anos
criando uma rede de oferta com respostas de qualidade, acessíveis, logística e
economicamente.
Sabemos todos e a evidência
sustenta que o desenvolvimento e crescimento equilibrado e positivo dos miúdos,
bem como o seu trajecto educativo e escolar são fortemente influenciados pela
qualidade das experiências educativas familiares e institucionais nos primeiros
anos de vida. De pequenino é que ...
Assim, existem áreas na vida das
pessoas que exigem uma resposta e uma atenção que sendo insuficiente ou não
existindo, se tornam uma ameaça muito séria ao futuro, a educação de qualidade
universalmente acessível para os mais pequenos é uma delas.
No entanto e mais uma vez, a
educação pré-escolar é bastante mais que a “preparação” para a escola, não deve
ser entendida como uma etapa na qual os meninos se preparam para entrar na
escola embora se saiba do impacto positivo que assume no seu trajecto escolar.
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