quinta-feira, 11 de setembro de 2025

TAL PAI, TAL FILHO

 Foi divulgado o relatório da OCDE Education at a Glance 2025. Vejamos alguns dados. Em Portugal, apenas 23% dos jovens com pais com o ensino básico terminaram um curso superior. Por outro lado, considerando os jovens com pais com formação superior, 73% terminaram um curso superior.

 Acresce que entre a população entre os 25 e os 64 anos, 38% não têm mais que o 9.º ano sendo que média na OCDE é de 19%.

É certo que temos vindo a melhorar estes indicadores, mas como se verifica ainda temos muito caminho para andar.

Nada de novo, sabemos a fortíssima associação entre o estatuto económico e o nível de escolarização familiar na frequência do ensino superior. Os alunos com famílias mais favorecidas acedem aos cursos com mais prestígio, preferencialmente universitário e também com maiores dificuldades no acesso que, como é sabido e julgo merecer reflexão, assenta quase que exclusivamente nas notas obtidas no secundário. Por outro lado, os estudantes de meios familiares menos favorecidos e menos escolarizados acedem mais a cursos de menor procura e ao ensino politécnico ou, com demasiada frequência, abandonam trajectos académicos, muitos ficando na designada situação “nem, nem”, nem estudam nem trabalham.

Na verdade, e como mostram os dados da OCDE, é ainda excessivamente marcado por variáveis sociodemográficas, estatuto económico e nível de escolarização familiar, sendo que a escola nem sempre consegue fazer a diferença e promover mais equidade e mobilidade social. Muitos estudos confirmam que a capacidade preditiva da variável escolaridade dos pais como, a título de exemplo, cruzando a os resultados dos resultados em exames nacionais com a habilitação escolar dos pais mostra isso mesmo.

Também sabemos que isto é tanto mais evidente quanto maiores são os níveis de desigualdade. Em Portugal, apesar de alguma recuperação, verifica-se ainda um dos maiores fossos entre ricos e pobres da União Europeia pelo que a relação entre os níveis escolar e salarial dos pais e os dos filhos é ainda mais forte. O trabalho agora apresentado vem, mais uma vez, confirmar a realidade que conhecemos, a enorme dificuldade da escola de promover mobilidade social, ou seja, o nível de escolaridade dos pais marca de forma excessiva o nível atingido pelos filhos. A situação sempre assim foi, ainda me lembro de quando era pequeno, haver quem se admirasse do meu pai, um serralheiro, ter decidido que eu continuaria a estudar.

Acresce que as circunstâncias conjunturais e estruturais das políticas educativas, apesar de alguma evolução não garantem equidade nas oportunidades, dificilmente sustentam que a educação e a qualificação também com equidade.

Deste quadro, resulta uma complexa situação que poderemos de forma simplista colocar nestes termos, a escola ao acabar por reproduzir a desigualdade social à entrada, compromete o papel fundamental que lhe cabe na promoção da mobilidade social, ou seja, a escola que deveria ser parte da solução, na prática, corre o risco de continuar a ser parte do problema. No entanto e apesar disto, creio que muito poderá e deverá ser feito no sentido da promoção efectiva da chamada e distante equidade e igualdade de oportunidades e é pela escola, pela educação, que se pode fazer a diferença.

Assim, mais uma vez, a questão central será a qualidade na escola pública. Esta qualidade deverá assentar em três eixos fundamentais, a qualidade considerando resultados, processos, autonomia e gestão optimizada de recursos, segundo eixo, qualidade para todos, a melhor forma de combater os mecanismos de exclusão e a desigualdade de entrada e, terceiro eixo, diferenciação de metodologias, diferenciação progressiva e não prematura dos percursos de educação e formação.

No actual cenário, quando se entende e espera que a educação e qualificação possam ter um papel decisivo na minimização de assimetrias, as políticas, os custos e a dificuldade de acesso podem, pelo contrário, alimentar essas assimetrias e manter a narrativa, "tal pai, tal filho", pai (mãe) letrado, filho letrado e pai (mãe) pouco letrado, filho pouco letrado.

Assim sendo, são necessárias políticas públicas para o médio prazo, estabelecidas com base no interesse de todos, com definição clara de metas, recursos, processos e avaliação. A continuar na deriva a que nas últimas décadas nos entregamos, daqui a algum tempo um novo estudo de dentro ou de fora virá dizer ... provavelmente o mesmo.

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