Quando era miúdo lembro-me de se ter instalado na linguagem comum a expressão "é de aviário", como sinónimo de contrafacção, de engano sobre relativa à qualidade ou genuinidade de qualquer produto.
Actualmente, olhando para dentro e atento ao que se passa por fora, recordo-me frequentemente dessa expressão.
Na verdade, a sociedade parece estar, por assim dizer, a aviarizar-se. Os miúdos são criados fechados, alimentados a fast-food. Curiosamente dizemos que nos preocupamos e os protegemos, mas eles nunca foram tão dependentes e nós bem nos esforçamos para que assim seja.
A rua e a comunicação presencial
substituem-se pela realidade virtual, o sozinhismo impera, e ainda lhe chamamos
redes sociais, o que é notável.
As lideranças já não se alimentam
de causas, desígnio, missão, bem comum, mas de subprodutos como influência,
poder pequenino ou calculismo, quando não proveito próprio. São lideranças de aviário, bem querem parecer
genuínos e sérios mas quando falam ou agem, percebe-se a contrafacção. Nós também já
não decidimos o que deve acontecer nos mercados, os mercados decidem o que deve
acontecer em nós.
O pensamento divergente de quem é
criado ao ar livre, é substituído pelo pensamento convergente ditado pelos
diferentes aparelhos instalados que debitam a ração certa, à hora certa.
Não, a minha avó Leonor a quem tanta confusão faziam os "produtos" de aviário, não iria
acreditar como nos vamos tornando progressivamente uma sociedade de aviário.
Talvez o facto de ainda estarmos na “silly season” possa atenuar o sem jeito desta prosa.
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