Há dias, a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou o habitual estudo, "Perfil do Docente", relativo ao quadro de professores de 2023/2024 em Portugal continental.
Apesar de ser uma classe
profissional com qualificação cada vez mais elevada, a grande e recorrente
preocupação é o seu envelhecimento.
No 3.ºciclo e ensino secundário,
a idade média dos professores é de 52 anos, seis em cada dez, 62%, têm 50 anos
ou mais sendo que em 2013/14 se verificava 37,3% na mesma situação.
É também preocupante o baixo número de jovens professores. Considerando o grupo mais numeroso, 3.º ciclo e
secundário, por cada grupo de 100 professores com menos de 35 anos, havia 1189
com 50 ou mais. Se for analisado por grupos disciplinares temos grupos em que a
diferença é bem maior.
Como tem vindo a verificar-se,
nada disto é estranho face à deriva política a que o universo da educação tem
estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente
sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais
e professores. Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um
empenhado processo de desvalorização social e profissional dos professores com impacto evidente no
clima das escolas e nas relações que a comunidade estabelece com estes
profissionais. Este cenário baixou drasticamente a atractividade da carreira
docente e, como sempre, sucessivos responsáveis por estes cenários, esquecem-se
do que produziram e ignoram responsabilidades, perorando sobre o que fazer e que não fizeram.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
A verdade é que as salas de
professores são cada vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por
gente envelhecida, cansada que se sente desvalorizada sociale profissionalmente, pouco apoiada, e que
muitas vezes, demasiadas vezes, pergunta "Quanto tempo é que te
falta?"
A propósito, relembro que, há já
uns anos largos, uma professora, na altura minha aluna de doutoramento, me
perguntava, com um ar meio sério, meio a brincar, se podia desenvolver a sua
tese a partir de uma questão que considerava a mais ouvida nas salas de
professores, quando no meio da burocracia e das actividades ainda havia tempo
para passar na sala de professores, “quanto tempo é que te falta?”. A sua ideia
não foi para a frente enquanto doutoramento, mas o que lhe está subjacente é
bem claro e bem preocupante. O resultado está à vista.
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais valorização nas diferentes
dimensões e apoio deveria merecer. Do seu trabalho competente e valorizado
depende o nosso futuro, (quase) tudo passa pela educação e pela escola.
No acesso ao ensino superior para o próximo lectivo registou-se um aumento de inscrições em cursos de formação de professores. É um bom sinal, mas é preciso fazer mais para que os docentes no sistema mantenham a aura e mais docentes novos criem a aura que o Ministro da Educação entende que perdem quando se manifestam pelas suas condições profissionais.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos.
Qual é parte que não se percebe?
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