No Expresso encontra-se uma peça sobre o tempo que crianças e adolescentes passam em frente a um ecrã fora da sala de aula.
O trabalho realizado pela
plataforma Qustodio, especializada em segurança e controlo digital para
famílias, envolveu 400 000 famílias de Espanha, Estados Unidos, Reino Unido e
Austrália e considerando a idade entre os 4 e os 18 anos.
Os dados mostram que crianças
e adolescentes gastam cerca de quatro horas por dia em frente a um ecrã.
Muitas vezes aqui
tenho abordado esta questão como também está sempre presente nas conversas com pais e encarregados de educação. Retomo algumas notas.
As referências
recorrentes ao tempo excessivo e aos riscos associados à ligação que muitas
crianças e adolescentes estabelecem com a net nas suas múltiplas possibilidades
designadamente as redes sociais, são, por assim dizer, um sinal dos tempos.
Relativamente à forma
de lidar com este quadro creio que, tal como noutras áreas o recurso
privilegiado a estratégias proibicionistas não será o mais eficaz apesar de
muitos pais me referirem a sua intenção, poucas vezes concretizada de proibir o
acesso.
A promoção de uma utilização
auto-regulada e informada parece-me uma estratégia mais adequada. A net e o
mundo de oportunidades, benefícios e riscos que está presente em todas as suas
potencialidades é uma matéria que deve merecer a reflexão de todos os que lidam
com crianças e jovens embora não lhes diga exclusivamente respeito. É o nosso
trabalho, como também é nosso trabalho a exigência por mais eficazes
dispositivos de controle de acesso e na natureza dos conteúdos embora esta seja
o caminho mais difícil.
Estamos num tempo em
que muitas crianças e adolescentes têm um ecrã como companhia em casa durante o
pouco tempo que a escola "a tempo inteiro" e as mudanças e
constrangimentos nos estilos de vida das famílias lhes deixam
"livre". Também é verdade que a crescente "filiação" em
redes sociais virtuais pode “disfarçar” um fechamento interior, juntando quem
“sofre” do mesmo mal e o tempo remanescente para estar em família,
frequentemente, ainda é passado à sombra de outro ecrã, a televisão.
Estas matérias, a
presença das novas tecnologias na vida dos mais novos e os riscos potenciais,
por estranho que pareça, são problemas menos conhecidos para muitos pais.
Aliás, existem demasiadas situações em que desde muito cedo os “smartphones” ou
outros dispositivos funcionam como “babysitters”. As dificuldades sentidas por
muitas famílias na ajuda aos filhos em tempo de ensino não presencial, mostrou
isso mesmo, baixos níveis de literacia digital. Considerando as implicações
sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada
aos pais para que a utilização imprescindível e útil seja regulada e protectora
da qualidade de vida das crianças e adolescentes minimizando os riscos
existentes nos “alçapões da net” muitas com riscos e consequências bem graves
ou fatais.
Por outro lado, a
experiência mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma
ajuda ou orientação nestas matérias. Sabemos que estratégias proibicionistas
tendem a perder eficácia com a idade.
Creio que o caminho
terá de passar por autonomia, supervisão, diálogo e informação que estimulem
auto-regulação e muita atenção aos sinais que crianças e adolescentes nos dão
sobre o que se passa com elas, sobretudo a situações que possam estar
associadas a mal-estar, que podem ser como que portas abertas para cair num
alçapão com consequências imprevisíveis.
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