A semestralização verificada em algumas áreas pedagógicas levou a que esta semana os meus netos passem uns dias por aqui no Monte. Uma tarde destas, de sol e frio, dou com o Tomás, cumpre o seu 1º ano, a “ler” um livro sobre astros em cima do telhado de um antigo chiqueiro.
Fiquei contente, os livros e a
leitura são bens de primeira necessidade para gente de todas as idades. Recordo
sempre Marguerite Yourcenar que em “As Memórias de Adriano” escrevia “A palavra
escrita ensinou-me a escutar a voz humana.”
São múltiplos os estudos que
sublinham o impacto dos livros e da leitura no trajecto escolar e no trajecto
pessoal, como também são muitos os trabalhos que mostram que os hábitos de
leitura são pouco consistentes entre as crianças, adolescentes e jovens como,
sem surpresa, também o são entre a população em geral.
Os livros têm uma concorrência
fortíssima com outro tipo de materiais, jogos ou consolas por exemplo, e que
nem sempre é fácil levar as crianças, jovens ou adultos a outras opções,
designadamente aos livros. Apesar de tudo isto também sabemos que é possível
fazer diferente, mesmo que pouco e com mudanças lentas.
Como várias vezes tenho afirmado
e julgo consensual, a questão central é o leitor, ou seja, o essencial é criar
leitores que, quando o forem, procurarão o que ler, livros por exemplo, em que
espaços, biblioteca, casa ou escola e em que suportes, papel ou digital.
Um leitor constrói-se desde o
início do processo educativo. Desde logo assume especial importância o ambiente
de literacia familiar e o envolvimento das famílias neste tipo de situações,
através de actividades que desde a educação pré-escolar e 1º ciclo deveriam ser
estimuladas, muitas vezes são, e para as quais poderiam ser disponibilizadas
aos pais algumas orientações. Talvez tivéssemos perdido uma oportunidade
enquanto os alunos estiveram em casa tanto tempo.
Apesar dos esforços de muitos
docentes, a relação de muitas crianças, adolescentes e jovens com os materiais
de leitura e escrita assentará, provavelmente de forma excessiva, nos manuais
ou na realização de trabalhos através da milagrosa “net” proliferando o
apressado “copy, paste” ou resumos de leituras necessárias.
Neste contexto, embora desejasse
muito estar enganado, não é fácil construir miúdos ou adolescentes leitores que
procurem livros em casa, em bibliotecas escolares ou outras e que usem o
"tablet" também para ler e não apenas para uma outra qualquer actividade
da oferta sem fim que está disponível.
No entanto, felizmente,
realizam-se com regularidade experiências muito interessantes em contextos
escolares, os professores bibliotecários têm desenvolvido um trabalho
essencial, ou em iniciativas mais alargadas a outras entidades como autarquias
e instituições culturais.
Temos que criar leitores, eles
irão à procura dos livros ou da leitura.
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