quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

CURIOSIDADE HISTÓRICA

 Hoje umas notas voltadas para dentro. Ao pensar na escrita para o Atenta Inquietude dei-me conta de que este trajecto começou em 7 de Fevereiro de 2007, 16 anos, uma estrada já longa.

Tornou-se um hábito diário que, por enquanto, vou mantendo, contemplando o mundo, lendo o que diz, pensando no que acontece, no que devia acontecer, porque acontece, porque não acontece, partilhando dúvidas e, desculpem o atrevimento, algumas certezas.

Como não podia deixar de ser, um olhar privilegiadamente dirigido para os mais novos, para a educação, para o bem-estar ou mal-estar de crianças e adolescentes, para a escola e para os agentes educativos, para as políticas públicas nesta áreas, etc.

Às vezes acho que vou parar, estou mais cansado, já disse o que acho que devia dizer, repito-me vezes sem conta a falar de muitas matérias, a contar histórias, algo de que os velhos gostam, mas, mais um dia, mais umas notas e assim tem sido nestes 16 anos.

É verdade que o retorno que muitas vezes chega por simpatia de quem lê ajuda a continuar.

Como dizemos por aqui, deixem lá ver até quando.

Por curiosidade deixo um texto que coloquei no primeiro dia de vida do Atenta Inquietude.

É velha na comunidade científica a dificuldade de estabelecer um equilíbrio entre um conhecimento de natureza "especialista" e o conhecimento de natureza "generalista". Não é tarefa fácil se considerarmos o volume enorme e virtualmente inesgotável de informação disponível e em construção sobre a totalidade dos temas que, por qualquer razão, possam ser objecto de estudo.

Daí o sempre presente desafio epistemológico da formação e desenvolvimento do conhecimento buscando o inatingível compromisso entre "saber muito sobre pouca coisa" e "saber pouco sobre muita coisa".

No entanto, de há algum tempo para cá emergiram na "medioesfera" um grupo de opinadores de origens diversas que parecem ter resolvido o tal imbróglio epistemológico. Refiro-me à seita dos TUDÓLOGOS, isso mesmo, os que sabem de tudo. É vê-los a emitir os seus "ACHISMOS" ou numa variante semântica também frequente os seus "PARA MIM..." por todo o lado onde apareça um microfone, uma câmara ou uma página de jornal ou revista.

O espectáculo é, por vezes, arrasador para a auto-estima de um cidadão que ao longo de uma laboriosa vida de estudo e reflexão procura conhecer uma qualquer área do saber. Eles, sempre os mesmos, falam, "acham", sobre não importa o quê, saúde, política (externa ou interna), educação, i & d, economia, arte, etc (uff!!). Estranhamente, por vezes, aparecem também acompanhados por pessoas de facto conhecedoras das áreas em discussão e de quem esperam, ou arrogantemente exigem, a caução da sua óbvia ignorância mascarada de "opinião esclarecida".

Curiosamente, a comunicação social ou, para ser justo, boa parte dela também mal preparada deleitando-se com a exibição despudorada de um umbigo tão grande quanto a ignorância, subscreve e amplia as maiores banalidades ou disparates que, diletantemente, os TUDÓLOGOS emitem.”

Como parece evidente, trata-se uma reflexão datada e, por isso, completamente ultrapassada, é só mesmo uma curiosidade histórica.

2 comentários:

Ana Barreiros disse...

É sempre bom ler e reler as suas palavras, as suas histórias, as suas partilhas! É um prazer e enche-nos a alma e os sonhos! Tenho saudades dos tempos de faculdade, de o ouvir nos Auditórios do ISPA. É um dos responsáveis pela minha paixão e encanto pela Educação, apesar de me ter formado em Clínica! Obrigada professor!

Anónimo disse...

Completamente atual este texto com mais de uma década! Especialmente nas áreas em que habitualmente comenta e em que me envolvi também desde 1981, abundam os TUDÓLOGOS … resta a esperança na nova geração, ainda com poucas oportunidades, para interpretar e saber escolher “os caminhos”!
Como de filhos se tratasse, estaremos por cá para os apoiar!
Obrigada pela lembrança! Um abraço