No Público encontra-se um trabalho que merece divulgação. É desenvolvido na aldeia de Cabreira, na Beira Interior. Conforme se afirma na peça, a iniciativa procura transformar “deficiências em eficiências”, um enunciado que, por si só, é um programa
Algumas notas repescadas a que, certamente,
voltarei apesar das boas experiências que se vão conhecendo.
A verdade, mais uma vez e sempre,
é que sem ser por magia ou mistério quando acreditamos que as pessoas, mais
novas ou mais velhas, com algum tipo de necessidade especial, são capazes, não
se "normalizam" evidentemente, seja lá isso o que for, mas são, na
verdade, mais capazes, vão mais longe do que admitimos ou esperamos, tão longe
como qualquer pessoa. Não esqueço a gravidade de algumas situações mas, ainda
assim, do meu ponto de vista, o princípio é o mesmo, se acreditarmos que eles
progridem, que eles são capazes de ... , o que fazemos, o que todos podemos
fazer, provoca progresso, o progresso possível e níveis de realização
significativos.
E isto envolve professores do
ensino regular, de educação especial, técnicos, pais, lideranças políticas,
empregadores e toda a restante comunidade.
No entanto, em algumas
circunstâncias o trabalho desenvolvido com e por estes alunos é ele próprio um
factor de debilização, ou seja, alimenta a sua incapacidade, numa reformulação
do princípio de Shirky.
Tal facto, não decorre da
incompetência genérica dos técnicos, julgo que na sua maioria serão empenhados
e competentes, mas da sua (nossa) própria representação sobre este grupo de
pessoas, isto é, não acreditam(os) que eles realizem ou aprendam. Desta
representação resultam situações e contextos de aprendizagem e formação,
tarefas e materiais de aprendizagem, expectativas baixas traduzidas na
definição de objectivos pouco relevantes, que, obviamente, não conseguem
potenciar mudanças significativas o que acaba por fechar o círculo, eles não
são, de facto, capazes. É um fenómeno de há muito estudado.
Mais uma vez. A inclusão assenta em
cinco dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a
que se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar
(envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns), Pertencer
(sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade) e Aprender (como
qualquer pessoa para potenciar as suas capacidades adquirindo competências,
qualificações e saberes). Estas dimensões devem ser operacionalizadas assentes
em modelos de diferenciação justamente para que acomodem e respondam à
diversidade das pessoas e promovam autonomia e autodeterminação.
É neste sentido que devem ser
canalizados os esforços e os recursos que deverão, obrigatoriamente, existir.
Não, não é nenhuma utopia. Muitas experiências noutras paragens, mas também por
cá, mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais
difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e
entender que é assim que deve ser.
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