Há uns dias li no Observador que, no âmbito das alterações à conclusão do ensino secundário e acesso ao ensino superior, o Governo se compromete a aprovar durante 2023 legislação que enquadre o acesso e a frequência de estudantes com deficiência ao ensino superior.
A Secretária
de Estado da Inclusão divulgou no Parlamento em Maio de 2022 a intenção de aprovar legislação “que determine
um conjunto de obrigações que um estabelecimento de ensino superior tenha de
cumprir ao receber alunos com necessidades educativas especiais”.
No que agora foi decidido passam a ter acesso ao contingente prioritário para
candidatos com deficiência apenas “os titulares de atestado médico de
incapacidade multiuso que avalie incapacidade igual ou superior a 60% ou os
titulares de parecer positivo de comissão de peritos”. Será ainda obrigatória a
comprovação “das medidas adicionais de suporte à aprendizagem durante o
percurso do ensino secundário justificadas pela deficiência em causa”.
Como já aqui tenho escrito, é
habitual ouvir-se que, recorrer a quotas ou contingentes especiais para
minimizar exclusão ou desigualdade, não sendo o ideal, pode ajudar a minimizar
os problemas.
No que respeita aos alunos com
necessidades especiais e considerando dados de 2017/2018, frequentaram o ensino
superior 1644 alunos com necessidades especiais, 0,5% do total dos matriculados
no ensino superior, sendo que apenas 14% das vagas do contingente especial para
estes estudantes foram ocupadas. Donde, o caminho só por aqui é demasiado
estreito.
Para além da definição de quotas no
acesso ao superior e dos seus critérios de aplicação, a promoção da qualificação
de cidadãos com necessidades especiais e, portanto, da sua inclusão começa na
educação pré-escolar e durante todo o trajecto do ensino básico e secundário. Neste
percurso é crítica a necessidade de dispositivos de apoio competentes e
suficientes.
A realidade, no âmbito da chamada
educação inclusiva, apesar das boas experiências não é a que muitas vezes se vê
referida. Há poucos dias abordei aqui esta questão e referi aspectos como o não
cumprimento limite de alunos com necessidades educativas especiais, sendo que
em turmas de 1º ciclo com diferentes com alunos de diferentes anos de
escolaridade as dificuldades agravam-se.
É claramente insuficiente os
recursos técnicos e humanos, psicólogos, terapeutas e auxiliares e verifica-se
a incapacidade de muitas escolas na operacionalização das medidas de apoio
definidas nos relatórios técnico-pedagógicos. As direcções escolares referem a
insuficiência de recursos humanos adequados.
Acresce que, como referi a
propósito do contingente prioritário para alunos carenciados, a decisão de
continuar para o ensino superior é construída durante todo o trajecto do básico
e secundário. Trajectos educativos bem apoiados promovem expectativas mais
elevadas de alunos e famílias, valorizam o conhecimento e a qualificação e,
portanto, são mais potenciadores da intenção de continuar a estudar. Donde, é
imprescindível um forte investimento em recursos e dispositivos de apoio que
que sustentem mais sucesso para todos os alunos de todas as escolas.
Também sabemos que, sem estranheza,
as famílias em situação mais vulnerável expressam mais frequentemente expectativas
mais baixas ou nulas sobre o sucesso escolar dos seus filhos e sobre a
importância de estudar. Por outro lado, também sabemos que a entrada no mercado
de trabalho de pessoas com deficiência é ainda tem obstáculos. Torna-se, assim,
necessário um trabalho que envolva as famílias no sentido de construir ou reajustar
expectativas sentirem a existência de uma imagem criadora de
Embora já seja feito em muitas
escolas, sobretudo no final e durante o pós-básico, seria desejável que os
dispositivos de orientação vocacional tivessem os recursos necessários para de
forma alargada providenciarem informação clara sobre a natureza da oferta
formativa, das suas características e solicitações, a que áreas de desempenho
permitem aceder no mundo profissional, etc. Por outro lado, esse apoio também
envolve o trabalho com os alunos no sentido de ajudar a um processo de tomada
de decisão que seja base para procurar qualificação, de natureza diversa, no
ensino superior.
Já no ensino superior e para
todos os alunos é importante que existam dispositivos de apoio institucionais e
também formas de mentoria desenvolvidas já por alunos a frequentar os
estabelecimentos que contribuam para melhores e mais rápidos processos de
adaptação a novas rotinas, métodos de trabalho, dificuldades de adaptação, etc.
O nível de desistência da frequência é mais alto nas populações mais
vulneráveis
Uma nota final para o óbvio, as
mudanças mais estruturais requerem investimentos e os recursos são finitos,
nenhuma dúvida. No entanto, as políticas públicas exigem opções e, também por
isso, são avaliadas.
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