A detenção de um jovem que estaria a preparar um ataque contra os seus colegas estudantes universitários trouxe para perto de nós a evidência dos riscos das sementes de mal-estar que muitos adolescentes e jovens carregam. Têm sido recorrentes nos últimos anos e em diferentes países, sobretudo nos EUA, episódios de extrema violência ocorridos em escolas e com a autoria de jovens.
Em cada momento de circunstâncias desta natureza invade-nos um sentimento de perplexidade. Porquê?
É verdade que também em Portugal
se têm verificado alguns casos de violência extrema envolvendo jovens, apesar
de terem, felizmente, efeitos menos trágicos, levando-nos a questionar os
nossos valores, modelos educativos, códigos e leis pela perplexidade que nos
causam.
Esta perplexidade exige a
necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação
do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e
adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente
despercebidas, mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior
insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por
duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva,
possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e
agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que
pode ser um ataque numa escola ou noutro espaço público, a bomba
meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém
arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina",
em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói
valores e gente. O jovem envolvido neste episódio parece corresponder ao padrão
de quem “incubava o mal” e, aparentemente, estaria entregue a si e ao seu
mal-estar.
É evidente que a detenção e eventual
punição poderão constituir um importante sinal de combate à sensação de
impunidade perigosamente presente na nossa comunidade, mas é minha forte
convicção de que só punir e prender não basta. Aliás, muitos destes jovens
envolvidos numa espiral de violência e tragédia puseram também fim à sua
estrada.
Finalmente, parece clara a
importância de uma precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar,
tentando detectar, tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de
enveredar por um caminho que se percebe como começa, mas nunca se sabe como
acaba.
Nos Estados Unidos, na Noruega,
na França, na Alemanha, no Brasil ... ou em Portugal.
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