No Público de Domingo encontrava-se um extenso trabalho sobre a saúde mental de crianças e jovens. Muitas vezes aqui tenho abordado esta questão, mas a realidade conhecida justifica a insistência.
As circunstâncias vividas nos últimos dois anos têm vindo a evidenciar impacto significativo na saúde mental e no bem-estar de
crianças e jovens.
O recurso a apoios na área da saúde mental tem vindo a crescer provocando o aumento dos tempos de espera para primeiras consultas, assim como o recurso às urgências e o número de casos referenciados por outros serviços de saúde. A insuficiência de recursos impede uma resposta em tempo mais oportuno.
Na peça refere-se a situação do Hospital de Dona Estefânia
em que a espera chega aos seis meses, do Hospital de São João, no Porto, três
meses e meio e o Hospital de Braga a espera era superior a oito meses no final
do ano.
Em Janeiro noticiava-se que nos dois anos que vivemos neste
cenário de pandemia os pedidos de ajuda ao Centro de Apoio Psicológico e
Intervenção em Crise do INEM aumentaram 52,8% nos jovens até aos 19 anos em
dois anos de pandemia.
Numa peça do Público de hoje refere-se que dados preliminares da actividade em 2021 de algumas Comissões de Protecção de Crianças e Jovens evidenciam um aumento de criançs e jovens em risco com problemáticas de saúde mental.
Recordo um trabalho divulgado em Agosto e que aqui citei
realizado pela Universidade de Calgary, no Canadá em que foram analisados 29
estudos de diferentes países envolvendo 80879 crianças e jovens. Como dado mais
relevante constata-se que um em cada quatro crianças ou jovens tem sintomas de
depressão elevados e um em cada cinco apresenta sintomas de ansiedade altos
devido à pandemia da covid-19.
Os especialistas referidos na peça do Público referem a peso
dos mesmos quadros clínicos nos pedidos de apoio.
De facto, têm sido múltiplos os estudos que referem esta
questão, a deterioração da saúde mental de crianças e jovens, mas também de
adultos, no quadro da pandemia. Os confinamentos a que se associaram os
períodos de isolamento, a falta de rede social dos pares, as dificuldades de
diversa ordem sentidas nos contextos familiares terão dado um contributo
significativo. Os dados mais recentes acentuam a importância desta matéria.
Deste quadro resulta a necessidade e urgência de atenção à saúde mental
de crianças e jovens ainda que habitualmente a saúde mental seja um parente
pobre das políticas públicas de saúde.
O impacto da pandemia nas aprendizagens tem sido muito
referido e está a ser objecto de um plano específico, Plano 21/23 Escola + que,
esperamos, mobilize os recursos e as intervenções necessárias aos que se
propõe. Seria importante que a esta recuperação no plano das aprendizagens
estivesse associada a uma forte preocupação com a saúde mental de crianças e
jovens com os apoios e recursos necessários. Ao que tem sido divulgado o Plano
de Recuperação e Resiliência prevê um investimento nos serviços de saúde incluindo
a saúde mental, a ver vamos.
Crianças e jovens que passam mal, não aprendem, vivem pior e
correm riscos sérios de comprometer o futuro pelo que os apoios e resposta não
podem, não devem, falhar.
Como o povo diz, é de pequenino que se torce o … destino.
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