sábado, 12 de fevereiro de 2022

NÃO MATEM O FUTEBOL

 Não é matéria que aqui aborde com frequência, mas é umas das minhas paixões, o futebol. Desde que aprendi a andar que me tornei fanático pelo jogo. Quando andava na primária dormia com a bola ao pé da cama e todo o tempo era para … jogar à bola. Só duas lesões graves impediram uma carreira bem-sucedida provavelmente em Itália ou Espanha, mas a paixão continuou sempre, ainda hoje.

No entanto, episódios como o de ontem à noite no jogo entre Porto e Sporting será mais um contributo para a vontade que me parece existir de liquidar o futebol. Não há praticamente fim-de-semana que não seja marcado por incidentes com adeptos, árbitros, jogadores, treinadores e direcções num crescendo de agressividade física e verbal com ofensas diárias nos comentários. Também na comunicação social, o tempo e espaço dado a opinadores e comentadores adeptos sustentam os discursos inflamados, atente-se no esgoto em que tanta vez se transformam as caixas de comentários dos jornais de onde a racionalidade o gosto pelo futebol (porventura algo incompatível) parecem arredados e de onde emergem o ódio e a intolerância que em cado jogo é operacionalizada por adeptos, jogadores, técnicos ou directores.

Há algum tempo assistimos a um apelo contenção feito pelo Presidente da Federação Portuguesa de Futebol dirigido aos responsáveis clubísticos que me parece chegar tarde,  as estruturas directivas e reguladoras são parte do problema embora, evidentemente, se espere que façam parte da solução.

Na verdade, também no desporto, em particular no futebol, os tempos andam feios, por cá e por fora. Estranho seria se assim não fosse.

A minha paixão pelo futebol vai resistindo mal aos maus tratos que vai recebendo. São recorrentes e progressivamente mais radicalizados e violentos os comportamentos e discursos que o envolvem, para além da componente negócio, uma variável fundamental que parece ser fortemente contributiva para o clima criado.

A espiral de gravidade dos episódios que já se anunciava começa a confirmar-se da irracionalidade e do ambiente de hostilidade e ódio instalados. Os recorrentes episódios envolvendo as claques e as direcções dos chamados clubes grandes, mas não só, mostram como podem ser graves as consequências deste clima e da escalada de violência associada.

Há algum tempo a imprensa referia (desejava) que os clubes, leia-se as suas direcções, pudessem tomar medidas face ao comportamento de alguns, muitos, energúmenos que fazem parte das suas claques.

É no mínimo ingénuo acreditar nisto. As direcções e os seus empregados e porta-vozes, os seus discursos, comportamentos e decisões são também parte substantiva do problema, não podem ser parte da decisão e solução.

A mediocridade da generalidade dos dirigentes produz discursos e comportamento que inflamam muitos dos apoiantes, apoiam e organizam as suas actividades. Servem-se deles para os jogos de poder e devem-lhes isso.

O futebol de alto nível não é um mundo que se divida entre santos e pecadores. Talvez a bola seja o elemento mais são deste universo apesar de tantas vezes também ser maltratada e sempre a pontapé. A excepção será o aconchego que recebe nas mãos dos guarda-redes.

Já dificilmente me mobilizo para ir a um estádio, não consigo assistir aos milhentos programas televisivos onde opinadores avençados, salvo algumas raras excepções, vão papagueando agendas encomendadas e se envolvem em obscenas trocas de agressões e boçalidades que são mais um alimento para o clima instalado de ódio, hostilidade e agressividade.

O problema é que não consigo não continuar fascinado com esse jogo estranho chamado futebol. Por isso me inquieta tudo isto. Não matem o futebol.

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