Não é matéria que aqui aborde com frequência, mas é umas das minhas paixões, o futebol. Desde que aprendi a andar que me tornei fanático pelo jogo. Quando andava na primária dormia com a bola ao pé da cama e todo o tempo era para … jogar à bola. Só duas lesões graves impediram uma carreira bem-sucedida provavelmente em Itália ou Espanha, mas a paixão continuou sempre, ainda hoje.
No entanto, episódios como o de
ontem à noite no jogo entre Porto e Sporting será mais um contributo para a
vontade que me parece existir de liquidar o futebol. Não há praticamente fim-de-semana
que não seja marcado por incidentes com adeptos, árbitros, jogadores,
treinadores e direcções num crescendo de agressividade física e verbal com
ofensas diárias nos comentários. Também na comunicação social, o tempo e espaço
dado a opinadores e comentadores adeptos sustentam os discursos inflamados,
atente-se no esgoto em que tanta vez se transformam as caixas de comentários
dos jornais de onde a racionalidade o gosto pelo futebol (porventura algo
incompatível) parecem arredados e de onde emergem o ódio e a intolerância que em
cado jogo é operacionalizada por adeptos, jogadores, técnicos ou directores.
Há algum tempo assistimos a um
apelo contenção feito pelo Presidente da Federação Portuguesa de Futebol
dirigido aos responsáveis clubísticos que me parece chegar tarde, as estruturas directivas e reguladoras são
parte do problema embora, evidentemente, se espere que façam parte da solução.
Na verdade, também no desporto,
em particular no futebol, os tempos andam feios, por cá e por fora. Estranho
seria se assim não fosse.
A minha paixão pelo futebol vai
resistindo mal aos maus tratos que vai recebendo. São recorrentes e
progressivamente mais radicalizados e violentos os comportamentos e discursos
que o envolvem, para além da componente negócio, uma variável fundamental que
parece ser fortemente contributiva para o clima criado.
A espiral de gravidade dos
episódios que já se anunciava começa a confirmar-se da irracionalidade e do
ambiente de hostilidade e ódio instalados. Os recorrentes episódios envolvendo
as claques e as direcções dos chamados clubes grandes, mas não só, mostram como
podem ser graves as consequências deste clima e da escalada de violência
associada.
Há algum tempo a imprensa referia
(desejava) que os clubes, leia-se as suas direcções, pudessem tomar medidas
face ao comportamento de alguns, muitos, energúmenos que fazem parte das suas
claques.
É no mínimo ingénuo acreditar
nisto. As direcções e os seus empregados e porta-vozes, os seus discursos,
comportamentos e decisões são também parte substantiva do problema, não podem
ser parte da decisão e solução.
A mediocridade da generalidade
dos dirigentes produz discursos e comportamento que inflamam muitos dos
apoiantes, apoiam e organizam as suas actividades. Servem-se deles para os
jogos de poder e devem-lhes isso.
O futebol de alto nível não é um
mundo que se divida entre santos e pecadores. Talvez a bola seja o elemento mais
são deste universo apesar de tantas vezes também ser maltratada e sempre a
pontapé. A excepção será o aconchego que recebe nas mãos dos guarda-redes.
Já dificilmente me mobilizo para
ir a um estádio, não consigo assistir aos milhentos programas televisivos onde
opinadores avençados, salvo algumas raras excepções, vão papagueando agendas
encomendadas e se envolvem em obscenas trocas de agressões e boçalidades que
são mais um alimento para o clima instalado de ódio, hostilidade e
agressividade.
O problema é que não consigo não
continuar fascinado com esse jogo estranho chamado futebol. Por isso me
inquieta tudo isto. Não matem o futebol.
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