Li no JN sem, no entanto, conseguir aceder à totalidade da peça que “Professores vão ter formação para lidar com emoções”. Deu para perceber que vai arrancar um projecto-piloto, mais um projecto, com 200 voluntários e que posteriormente a formação será realizada nos centros de formação.
Como se sabe quem anda por estas lidas, para além dos
rigores do Inverno, as escolas são também geladas emocionalmente, a
generalidade dos professores não sabe lidar com emoções, tal como alunos, os
técnicos que estão nas escolas incluindo os funcionários. Dito da maneira actual, não estão capacitados.
Percebe-se, assim, que nos últimos tempos se tenha
desencadeado uma onda de promoção, perdão, capacitação, nas escolas através de imensos projectos e
iniciativas de escala variável visando o desenvolvimento da inteligência emocional,
da empatia, da Social-Emotional Learning (SEL) e outras designações.
É importante registar o esforço no âmbito da formação, aliás, capacitação, dos
profissionais da educação, mas, certamente por incompetência ou desconhecimento
vou sentindo algumas reservas face a esta onda, que pela visão mágica com que parece
ser informada, quer pela regular apresentação de um receituário ou programa que
garante que se vai aprender a fazer o que nunca foi feito nas escolas “lidar com
as emoções” independentemente da formulação. Dito isto, sublinho que em muitas
circunstâncias nos confrontamos com dificuldades neste domínio.
Dada a importância e actualidade destas questões leva-me a
retomar algumas notas.
As alterações nos estilos de vida, nos valores sociais,
culturais, económicos, etc., nos modelos de desenvolvimento económico e
consequente visão política e as suas consequências nas políticas educativas
parecem ter criado um tempo em que emerge a necessidade de “trabalhar” as
emoções nos contextos educativos.
Os climas sociais e de aprendizagem em diferentes escolas e
salas de aula nem sempre são particularmente amigáveis para todos os alunos,
mas também para professores como múltiplos estudos evidenciam.
Talvez tenhamos que reflectir sobre isto e retomar coisas
velhas, nada “inovadoras”, nada "revolucionárias", nenhum “novo
paradigma”, a educação escolar é estruturada e alimentada pela relação e a
relação, para que exista e seja positiva, tem como ingrediente … a emoção. Nas
minhas conversas por aí sobre estas coisas da educação desafio muitas vezes
pais ou professores a recordarem muito brevemente professores de quem guardam
boas memórias. Quando lhes pergunto porquê, as justificações remetem muito
significativamente para a relação que com eles tiveram, para além do que com
eles aprenderam das “coisas da escola”.
Como dizia em cima, a educação escolar, a acção do
professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação que se
operacionaliza na comunicação e se tempera com a emoção. Também por isso são também preocupantes os
tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar, para
conversar com os alunos e as emoções, por vezes, entram em turbulência e descontrolo.
Também a pressão para os resultados, a natureza dos conteúdos
e gestão curriculares ou o número de alunos por turma por exemplo, dificultam
essa relação. O professor “fala com o programa”, a maioria dos alunos entende,
outros não e com esses é preciso falar, mas … para os mandar calar ou até sair.
Há pouco tempo para conversar, para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que os professores, tanto ou
mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são. Quando nos lembramos com
ternura e admiração de alguns professores é pelo que eles eram e nem sempre
pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha tido.
O Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém tinha sido seu professor justificava, "porque foi meu amigo", traduzindo para uma linguagem mais actual, "estava capacitado para gerir as minhas emoções, tinha empatia".
São assim os professores que nos marcaram de forma positiva,
ensinam-nos o que são, não só o que sabem como acima escrevi.
Sendo certo que precisamos de ajustamentos regulares no que
fazemos, no como fazemos e para que fazemos, não “inovemos” tanto, não
queiramos tantos “novos paradigmas”, não "mudemos" tudo pela ilusão
mágica da mudança.
Criemos, apenas, o tempo e o modo para que nas salas de aula
os professores e os alunos, todos os alunos, tenham o tempo e a circunstância
que lhes permita comunicar, entre si, com a razão e com a emoção. Irão aprender
e ser.
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