Talvez vos possa parecer estranho,
mas tenho recordado a mítica expressão que corria no Alentejo relativa à
Barragem do Alqueva, “Construam-me porra!” Vou tentar explicar.
No Expresso está uma entrevista
com Karine Tremblay da OCDE e responsável durante algum tempo pelos estudos
relativos a professores, Teaching and Learning International Survey. Com base no
de 2018 evidencia-se o abaixamento do número de inscrições nos cursos que
habilitam para o ensino, os níveis de (in)satisfação com a carreira, de stresse,
de desmotivação, de arrependimento pela escolha da profissão, etc. Acresce o também
muito conhecido envelhecimento da classe que justificará o agudizar a curto
prazo da falta de professores com a entrada na reforma de alguns milhares e insuficiência
dos inscritos nos cursos de formação para a sua substituição.
A questão é que nada disto é
novo. Sucessivos estudos nacionais e internacionais têm de há vários anos
referido estas matérias e a mudança mais substantiva é o agravamento da situação com o passar do tempo.
Na entrevista também são
sugeridas algumas medidas que, mais uma vez, não trazem nada de particularmente
novo, são conhecidas e a situação torna-se progressivamente mais complicada há
medida que … nada de substantivo acontece.
Talvez um contributo para essa
inacção seja a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto
nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se
perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e
professores. Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm desenvolvido
políticas que contribuem para a desvalorização dos professores com impacto
evidente no clima das escolas e nas relações que a comunidade estabelece com
estes profissionais. Este cenário revela uma das dimensões mais frágeis das
políticas públicas de educação nos últimos anos em que sempre se insistia na
narrativa dos professores a mais com resultados que estão à vista.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação por diferentes razões incluindo emocionais,
de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
Como já referi, são conhecidos os
problemas e também algumas hipóteses de minimização. Sabemos que os sistemas
educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores
são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.
Estou a lembrar-me Almada
Negreiros na “Invenção do Dia Claro” “Quando eu nasci, as frases que hão-de
salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a
humanidade.”
Numa versão mais alentejana lembro-me
da famosa “reclamação”, “Construam-me porra!” escrita no pontão de apoio às
obras protestando com o tempo de espera pela Barragem do Alqueva.
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