sábado, 19 de fevereiro de 2022

OS PROBLEMAS DA EDUCAÇÃO E A BARRAGEM DO ALQUEVA

 

Talvez vos possa parecer estranho, mas tenho recordado a mítica expressão que corria no Alentejo relativa à Barragem do Alqueva, “Construam-me porra!” Vou tentar explicar.

No Expresso está uma entrevista com Karine Tremblay da OCDE e responsável durante algum tempo pelos estudos relativos a professores, Teaching and Learning International Survey. Com base no de 2018 evidencia-se o abaixamento do número de inscrições nos cursos que habilitam para o ensino, os níveis de (in)satisfação com a carreira, de stresse, de desmotivação, de arrependimento pela escolha da profissão, etc. Acresce o também muito conhecido envelhecimento da classe que justificará o agudizar a curto prazo da falta de professores com a entrada na reforma de alguns milhares e insuficiência dos inscritos nos cursos de formação para a sua substituição.

A questão é que nada disto é novo. Sucessivos estudos nacionais e internacionais têm de há vários anos referido estas matérias e a mudança mais substantiva é o agravamento da situação com o passar do tempo.

Na entrevista também são sugeridas algumas medidas que, mais uma vez, não trazem nada de particularmente novo, são conhecidas e a situação torna-se progressivamente mais complicada há medida que … nada de substantivo acontece.

Talvez um contributo para essa inacção seja a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm desenvolvido políticas que contribuem para a desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais. Este cenário revela uma das dimensões mais frágeis das políticas públicas de educação nos últimos anos em que sempre se insistia na narrativa dos professores a mais com resultados que estão à vista.

Sabemos que os velhos não sabem tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer grupo profissional exige renovação por diferentes razões incluindo emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.

Como já referi, são conhecidos os problemas e também algumas hipóteses de minimização. Sabemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.

Estou a lembrar-me Almada Negreiros na “Invenção do Dia Claro” “Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade.”

Numa versão mais alentejana lembro-me da famosa “reclamação”, “Construam-me porra!” escrita no pontão de apoio às obras protestando com o tempo de espera pela Barragem do Alqueva.

Sem comentários: