No Público encontra-se a referência ao “Relatório sobre o Estado da Tecnologia na Educação em Portugal” realizado pela Promethean em colaboração com investigadores da Universidade do Minho que, através de inquéritos a professores, evidencia algumas carências na formação para a utilização das tecnologias digitais em sala de aula. Um número ainda significativo de professores afirma não as utilizar, mas a maioria refere vantagens na sua utilização.
Importa ainda sublinhar que não estão resolvidos os
problemas relativos aos equipamentos nas escolas e a acessibilidade eficiente à
net.
Por outro lado, Filinto Lima, presidente da Associação
Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, minimiza as
necessidades de formação, o estudo, diz, é já de algum tempo e existe
actualmente muita oferta de formação nesta matéria.
Manuel Pereira, presidente da direcção da Associação
Nacional de Dirigentes Escolares, reconhece as necessidades de formação e sobrevaloriza
o recurso às tecnologias digitais uma vez que “as novas tecnologias podem
ser um instrumento fantástico de motivação tanto para professores como para
alunos”. Mais afirma que “A escola não pode fugir da realidade onde está
integrada e hoje as crianças e jovens vivem em função das tecnologias.”
Esta afirmação deixou-me um pouco perplexo. Para utilizar a
mesma terminologia eu diria que as tecnologias vivem (existem) em função das
crianças, dos jovens, dos adultos, enfim de todos os que de alguma forma e em
múltiplas dimensões podemos beneficiar destas ferramentas, não somos nós que
vivemos em função delas.
Apesar do seu enorme potencial as ferramentas digitais não são a
poção mágica para o ensino e aprendizagem. Os computadores ou tablets na sala
de aula, os smart boards, não promovem sucesso só pela sua existência. A forma
como são utilizados por professores e alunos é que potencia a qualidade e os
resultados desse trabalho. Aliás, o mesmo se pode dizer de qualquer outro
recurso ou actividade no âmbito dos processos de aprendizagem.
Sublinho, no entanto, os múltiplos estudos e experiências
valorizam este recurso nos processos de ensino e aprendizagem pelo que é importante
garantir o acesso pela generalidade dos alunos.
Neste contexto e como já tenho afirmado, considerando o que
se sabe em matéria de desenvolvimento das crianças e adolescentes, dos
processos de ensino e aprendizagem e da sua complexa teia de variáveis, das
experiências e dos estudos neste universo, mesmo quando aparentemente
contraditórios:
1 – O contacto precoce com as tecnologias digitais é, por
princípio, uma experiência positiva para os alunos, para todos os alunos, se
considerarmos o mundo em que vivemos e no qual eles se estão a preparar para
viver. Nós adultos ainda estamos a pagar um preço elevado pela iliteracia, os
nossos miúdos não devem correr o risco da iliteracia informática. Os tempos da da
pandemia mostraram isso mesmo.
2 – O computador/tablet, kits robóticos, smart boards, etc.,
na sala de aula são mais uma ferramenta, não são A ferramenta, não substitui a
escrita manual, não substitui a aprendizagem do cálculo, não substitui coisa
nenhuma, é “apenas” mais um meio, muito potente sem dúvida, ao dispor de alunos
e professores para ensinar e aprender e agilizar o acesso a informação e
conhecimento.
3 - O que dá qualidade e eficácia aos materiais e
instrumentos que se utilizam na sala de aula não é a tanto a sua natureza, mas,
sobretudo, a sua utilização, ou seja, incontornavelmente, o trabalho dos
professores é uma variável determinante. Posso ter um computador para fazer
todos os dias a mesma tarefa, da mesma maneira, sobre o mesmo tema, etc.
Rapidamente se atinge a desmotivação e ineficácia, é a utilização adequada que
potencia o efeito as capacidades dos materiais e dispositivos.
4 - Para alguns alunos com necessidades especiais o
computador pode ser mesmo a sua mais eficiente ferramenta e apoio para acesso
ao currículo.
5 – Para além de garantir o acesso dos miúdos aos materiais
é obviamente imprescindível promover o acesso a formação e apoio ajustados aos
professores sem os quais se compromete a qualidade do trabalho a desenvolver
bem como, evidentemente, assegurar as condições exigidas para que o material
possa ser rentabilizado.
6 – Finalmente, como em todo o trabalho educativo, são
essenciais os dispositivos de regulação e avaliação do trabalho de alunos e
professores.
7 – Tudo isto considerado a escola pública deve promover até
ao limite a universalidade do acesso a estes dispositivos. Sim tem custos, mas
a exclusão sai mais onerosa.
Como referi acima não existem poções mágicas em educação por
mais desejável que possa parecer a sua existência. Não deixemos que o fascínio
deslumbrado pelas "salas do Futuro" faça esquecer os problemas do
presente.
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