terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS

 No Público encontra-se a referência ao “Relatório sobre o Estado da Tecnologia na Educação em Portugal” realizado pela Promethean em colaboração com investigadores da Universidade do Minho que, através de inquéritos a professores, evidencia algumas carências na formação para a utilização das tecnologias digitais em sala de aula. Um número ainda significativo de professores afirma não as utilizar, mas a maioria refere vantagens na sua utilização.

Importa ainda sublinhar que não estão resolvidos os problemas relativos aos equipamentos nas escolas e a acessibilidade eficiente à net.

Por outro lado, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, minimiza as necessidades de formação, o estudo, diz, é já de algum tempo e existe actualmente muita oferta de formação nesta matéria.

Manuel Pereira, presidente da direcção da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, reconhece as necessidades de formação e sobrevaloriza o recurso às tecnologias digitais uma vez que “as novas tecnologias podem ser um instrumento fantástico de motivação tanto para professores como para alunos”. Mais afirma que “A escola não pode fugir da realidade onde está integrada e hoje as crianças e jovens vivem em função das tecnologias.”

Esta afirmação deixou-me um pouco perplexo. Para utilizar a mesma terminologia eu diria que as tecnologias vivem (existem) em função das crianças, dos jovens, dos adultos, enfim de todos os que de alguma forma e em múltiplas dimensões podemos beneficiar destas ferramentas, não somos nós que vivemos em função delas.

Apesar do seu enorme potencial as ferramentas digitais não são a poção mágica para o ensino e aprendizagem. Os computadores ou tablets na sala de aula, os smart boards, não promovem sucesso só pela sua existência. A forma como são utilizados por professores e alunos é que potencia a qualidade e os resultados desse trabalho. Aliás, o mesmo se pode dizer de qualquer outro recurso ou actividade no âmbito dos processos de aprendizagem.

Sublinho, no entanto, os múltiplos estudos e experiências valorizam este recurso nos processos de ensino e aprendizagem pelo que é importante garantir o acesso pela generalidade dos alunos.

Neste contexto e como já tenho afirmado, considerando o que se sabe em matéria de desenvolvimento das crianças e adolescentes, dos processos de ensino e aprendizagem e da sua complexa teia de variáveis, das experiências e dos estudos neste universo, mesmo quando aparentemente contraditórios:

1 – O contacto precoce com as tecnologias digitais é, por princípio, uma experiência positiva para os alunos, para todos os alunos, se considerarmos o mundo em que vivemos e no qual eles se estão a preparar para viver. Nós adultos ainda estamos a pagar um preço elevado pela iliteracia, os nossos miúdos não devem correr o risco da iliteracia informática. Os tempos da da pandemia mostraram isso mesmo.

2 – O computador/tablet, kits robóticos, smart boards, etc., na sala de aula são mais uma ferramenta, não são A ferramenta, não substitui a escrita manual, não substitui a aprendizagem do cálculo, não substitui coisa nenhuma, é “apenas” mais um meio, muito potente sem dúvida, ao dispor de alunos e professores para ensinar e aprender e agilizar o acesso a informação e conhecimento.

3 - O que dá qualidade e eficácia aos materiais e instrumentos que se utilizam na sala de aula não é a tanto a sua natureza, mas, sobretudo, a sua utilização, ou seja, incontornavelmente, o trabalho dos professores é uma variável determinante. Posso ter um computador para fazer todos os dias a mesma tarefa, da mesma maneira, sobre o mesmo tema, etc. Rapidamente se atinge a desmotivação e ineficácia, é a utilização adequada que potencia o efeito as capacidades dos materiais e dispositivos.

4 - Para alguns alunos com necessidades especiais o computador pode ser mesmo a sua mais eficiente ferramenta e apoio para acesso ao currículo.

5 – Para além de garantir o acesso dos miúdos aos materiais é obviamente imprescindível promover o acesso a formação e apoio ajustados aos professores sem os quais se compromete a qualidade do trabalho a desenvolver bem como, evidentemente, assegurar as condições exigidas para que o material possa ser rentabilizado.

6 – Finalmente, como em todo o trabalho educativo, são essenciais os dispositivos de regulação e avaliação do trabalho de alunos e professores.

7 – Tudo isto considerado a escola pública deve promover até ao limite a universalidade do acesso a estes dispositivos. Sim tem custos, mas a exclusão sai mais onerosa.

Como referi acima não existem poções mágicas em educação por mais desejável que possa parecer a sua existência. Não deixemos que o fascínio deslumbrado pelas "salas do Futuro" faça esquecer os problemas do presente.

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