segunda-feira, 8 de junho de 2020

OS RESULTADOS A MATEMÁTICA. SERÁ DESTINO?


Um relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência com os resultados escolares por disciplina entre 2011/2012 e 2017/2018 referido no Público merece atenção e reflexão. Nos sete anos considerados o número de alunos que termina o 9º ano e transita para o 10º ano com negativa a Matemática subiu 10%, de 23% em 2011/2012 para 33% em 2017/2018 contrariamente ao que se verifica nas outras disciplinas.
A Matemática é ainda a disciplina em os alunos mais dificuldades sentem em recuperar de uma nota negativa, apenas 30% dos que repetem o 9º ano conseguem nota positiva a Matemática no ano seguinte. Também se regista que dos alunos que entram no secundário com negativa a Matemática só 18% recupera.
Talvez seja de juntar um outro dado também de um relatório do ME. Dados de 2018/2019 mostram que apesar da melhoria global, a retenção escolar continua fortemente associada ao nível socioeconómico das famílias dos alunos.
Dos dados agora divulgados pelo ME e em síntese releva que em 2018/2019 apenas 21% dos alunos abrangidos pela Acção Social Escolar cumpriram o 9º ano sem retenções, entre os alunos com meios familiares mais favorecidos a percentagem de trajectos sem retenção foi 56%. No ensino secundário a diferença é menor, mas ainda bastante significativa, 29% e 45%.
Os números ilustram uma situação que, lamentavelmente, não tem nada de novo, os resultados em Matemática continuam mais baixos e também associados a variáveis sociodemográficas, condições económicas e nível de escolarização familiar.
Para além destas questões que são críticas a explicação para os resultados a Matemática é complexa e nem sempre consensual como a peça do Público bem ilustra com os diferentes pontos de vista de duas Associações, Sociedade Portuguesa de Matemática e a Associação dos Professores de Matemática.
Os resultados serão influenciados, não numa relação de causa-efeito, por múltiplas variáveis como modelo e conteúdos curriculares, número de alunos por turma, tipologia das turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica. Variáveis desta natureza terão também algum peso e algumas vezes já aqui referimos estas questões.
Acresce a esta complexidade um conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais psicológica como a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes de aprender matemática.
É também conhecido que os pais com mais qualificação e de mais elevado estatuto económico têm expectativas mais elevadas sobre o desempenho escolar dos filhos o que se repercute na acção educativa e nos resultados escolares e, naturalmente, mais facilmente mobilizam formas de ajuda para eventuais dificuldades, seja nos TPC, seja através de ajuda externa.
Finalmente uma outra variável neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje existe uma percepção passada nos discursos de muita gente com diferentes níveis de qualificação de que a Matemática é uma “coisa difícil” e ainda de que só os mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante que acontecesse.
De facto, este tipo de discursos não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a desmotivar-se.
Não fica fácil a tarefa dos professores, mas no limite e como sempre será a escola o braço operacional da comunidade que quer fazer a diferença a fazer a diferença.
Não podemos falhar.

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