Um relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência com os resultados escolares por disciplina
entre 2011/2012 e 2017/2018 referido no Público merece atenção e reflexão. Nos sete anos
considerados o número de alunos que termina o 9º ano e transita para o 10º ano
com negativa a Matemática subiu 10%, de 23% em 2011/2012 para 33% em 2017/2018
contrariamente ao que se verifica nas outras disciplinas.
A Matemática é ainda a disciplina
em os alunos mais dificuldades sentem em recuperar de uma nota negativa, apenas
30% dos que repetem o 9º ano conseguem nota positiva a Matemática no ano
seguinte. Também se regista que dos alunos que entram no secundário com negativa
a Matemática só 18% recupera.
Talvez seja de juntar um outro
dado também de um relatório do ME. Dados de 2018/2019 mostram que apesar da
melhoria global, a retenção escolar continua fortemente associada ao nível
socioeconómico das famílias dos alunos.
Dos dados agora divulgados pelo
ME e em síntese releva que em 2018/2019 apenas 21% dos alunos abrangidos pela
Acção Social Escolar cumpriram o 9º ano sem retenções, entre os alunos com
meios familiares mais favorecidos a percentagem de trajectos sem retenção foi
56%. No ensino secundário a diferença é menor, mas ainda bastante
significativa, 29% e 45%.
Os números ilustram uma situação
que, lamentavelmente, não tem nada de novo, os resultados em Matemática
continuam mais baixos e também associados a variáveis sociodemográficas,
condições económicas e nível de escolarização familiar.
Para além destas questões que são
críticas a explicação para os resultados a Matemática é complexa e nem sempre
consensual como a peça do Público bem ilustra com os diferentes pontos de vista
de duas Associações, Sociedade Portuguesa de Matemática e a Associação dos
Professores de Matemática.
Os resultados serão
influenciados, não numa relação de causa-efeito, por múltiplas variáveis como
modelo e conteúdos curriculares, número de alunos por turma, tipologia das
turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e
professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica. Variáveis desta
natureza terão também algum peso e algumas vezes já aqui referimos estas
questões.
Acresce a esta complexidade um
conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência
e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais
psicológica como a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de
ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes
de aprender matemática.
É também conhecido que os pais
com mais qualificação e de mais elevado estatuto económico têm expectativas
mais elevadas sobre o desempenho escolar dos filhos o que se repercute na acção
educativa e nos resultados escolares e, naturalmente, mais facilmente mobilizam
formas de ajuda para eventuais dificuldades, seja nos TPC, seja através de
ajuda externa.
Finalmente uma outra variável
neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje
existe uma percepção passada nos discursos de muita gente com diferentes níveis
de qualificação de que a Matemática é uma “coisa difícil” e ainda de que só os
mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente
que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até
com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É
claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a
Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma
tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante que
acontecesse.
De facto, este tipo de discursos
não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se
alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a
desmotivar-se.
Não fica fácil a tarefa dos
professores, mas no limite e como sempre será a escola o braço operacional da
comunidade que quer fazer a diferença a fazer a diferença.
Não podemos falhar.
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