A propósito de um trabalho no
Observador sobre o impacto no processo educativo e de desenvolvimento do fim das aulas presenciais e da resposta de
emergência E@D nos alunos com necessidades educativas especiais bem como a enorme inquietação das famílias de alunos com a eventual continuidade deste modelo no próximo ano lectivo, retomo algumas notas sobre esta questão.
Há algumas semanas o Ministro da
Educação admitiu a possibilidade de que no próximo ano se recorra a um modelo
que envolva aulas presenciais e aulas à distância. Apesar de boas práticas que sempre existirão, afirmei “o que com enorme esforço e motivação foi estruturado
no ensino à distância (E@D) foi uma resposta de emergência que procurou
substituir e minimizar o impacto do encerramento das escolas, mas não é uma
alternativa, dificilmente o será sobretudo nos primeiros anos de escolaridade e
em particular no caso de alunos com necessidades especiais".
A eventual manutenção de aulas
não presenciais, mesmo que em tempo parcial, solicita uma séria reflexão sobre
o que deverão ser, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade e para alunos
com necessidades especiais e o tempo não é muito.
Na peça do jornal estão bem retratadas
dificuldades e os riscos de retrocesso decorrentes da situação de ensino à
distância e de acesso a apoios adequados.
De facto vivemos num tempo
estranho, estamos a falar de educação inclusiva num cenário de
“ensino à distância” e com os alunos ausentes dos espaços onde se realiza a educação escolar, a sala de aula, a escola. Para muitos alunos com
necessidades especiais e para muitos outros e por diferentes razões tem mesmo
aumentado a sua distância para a escola o que naturalmente terá efeitos
negativos, quer no progresso nas aprendizagens, quer numa perspectiva de
educação inclusiva.
Como tenho afirmado, não esqueço
que mesmo em tempos “normais” também temos constrangimentos e insucessos, mas,
ainda assim, temos uma variável muito importante, proximidade.
O ME divulgou em Abril
“Orientações para o trabalho das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação
Inclusiva na modalidade E@D”.
Como disse na altura, sendo
importante que se conheçam orientações da tutela, o que foi divulgado as
“orientações” reflectiam fundamentalmente as competências e funções das EMAEI o
que no quadro da resposta que temos será de uma enorme dificuldade de
operacionalização.
Na altura afirmei que me parece pertinente definir duas grandes linhas de trabalho.
A primeira seria a colaboração
com os docentes para o trabalho a desenvolver neste contexto particular em que
a planificação “existente” não tem obviamente condições para funcionar. Questões
como que objectivos a manter ou redefinir, que actividades e com que recursos a
desenvolver em casa, que duração, que rotinas de trabalho, que apoio solicitam
pais ou de irmãos, etc., são alguns dos exemplos em que o que está definido
nesta imensidade de RTP/PEI/PIT poderá necessitar de ser reconfigurado.
Uma segunda linha seria o apoio
aos pais. No entanto, creio que tanto ou mais do que criar formas de apoio aos
pais no sentido de serem “professores” ou “técnicos” dos seus filhos, ou seja,
o apoio dos pais ao “trabalho” dos filhos no “ensino à distância” julgo que
precisamos de apoiar os pais enquanto pais num quotidiano altamente exigente em
matéria de resistência física e psicológica. São grandes os riscos de cansaço,
impotência desânimo, culpabilização, etc. para mais dentro de um cenário de
isolamento. Esta questão quanto a mim é crítica.
O trabalho do Observador é
elucidativo.
Como na altura afirmei e não
querendo ser polémico ou provocador, não é de todo a intenção, um contacto
regular próximo e acessível e com alguma disponibilidade para “ouvir” será
talvez mais importante que o cumprimento rigoroso dos RTP/PEI/PIT.
No entanto e como é evidente cada
situação sugerirá a melhor abordagem.
Parece provável que o Setembro de
2020 não será igual ao Setembro de 2019, as inquietações e as dúvidas são
muitas e o tempo já não é muito.
Sem comentários:
Enviar um comentário