Começa a ser inquietante o lento
desconfinar do Ministro da Educação. Estamos a terminar o este atípico ano
lectivo e seria crítico conhecer-se alguma ideia estruturada para o próximo ano
lectivo e os enormes de safios que nos esperam.
O Ministro surgiu na tão patética
quanto insustentável cerimónia de entrega de um prémio aos profissionais de
saúde, a realização em Lisboa dos jogos finais da Champions de futebol, há
uns dias admitiu que poderia ser necessário recorrer a um modelo misto entre
ensino presencial e ensino à distância e na imprensa de hoje lê-se que em Setembro
o ensino será presencial para todos os anos de escolaridade e que ao
Expresso o Ministério terá admitido que “em caso de necessidade haverá
contratação de mais professores”. É curto, muito curto. Perdão, esqueci-me que também está assente que os pais terão de devolver os manuais. Presumo que seja para consolidar de forma mais eficiente as aprendizagens e conteúdos que este ano não foi possível trabalhar.
Apesar do esforço gigantesco de
escolas e professores ficou claro desde o início do E@D de emergência que por
várias razões as desigualdades se acentuaram por múltiplas razões. Professores
e directores referem o volume significativo de alunos que terá perdido o contacto
continuado e envolvido com a escola. Numa reunião de um Conselho Geral de que
faço parte admitia-se que em cada turma existiriam 2 a 3 alunos em enorme
risco de se perderem. Acresce que mesmo nos alunos que foram acompanhando o trabalho à distância
muitas aprendizagens ficaram comprometidas. No caso dos alunos com necessidades
especiais as dificuldades foram amplificadas pela não acessibilidade a apoios
específicos.
Por outro lado, a dispersão de
práticas e metodologias entre as escolas em termos de gestão curricular, gestão
das cargas horárias curriculares, metodologias de trabalho e de acompanhamento
dos alunos etc., geraram múltiplas situações de desigualdade. Sendo menos
referida julgo que a situação dos alunos do 1º ciclo é preocupante pois a todas
as dificuldades da situação, acresce a sua menor autonomia e resiliência a um
quadro desconhecido e exigente para muitos deles e a que nem sempre a ajuda
indispensável e difícil dos pais minimiza.
Recordo o trabalho realizado pela
Fenprof a que responderam 3548 docentes sendo que a maioria, 63.9%, dão do 3º
ciclo e secundário.
Dos docentes inquiridos, 93,5%
dos docentes entende que se agravaram as desigualdades entre alunos sendo que
mais de metade, (54,8%) continuava na altura da resposta sem conseguir
contactar com todos os seus alunos, através da net ou por outras vias. Por
outro lado, dos cerca de 75% de docentes com alunos com necessidades especiais,
40,8% referem desconhecer se as medidas de apoio disponibilizadas a estes
estudantes serão as “adequadas” ainda que dos professores que afirmam conhecer
o trabalho desenvolvido com os alunos com mais necessidades, 43,9% consideram
que as medidas de apoio são “adequadas”.
São ainda interessantes as referências
à avaliação associadas à gestão curricular na medida em que são leccionados
conteúdos “novos” que não chega aos alunos que estão “distantes” da escola,
sendo que 70,5% dos professores afirmam a leccionar novos conteúdos e 47,8%
avaliarão estes conteúdos no final deste período.
No que respeita ao seu próprio
trabalho, 65% dos inquiridos afirma que a exigência do ensino à distância é
mais exigente que o trabalho presencial.
Na generalidade dos países em que
as escolas foram encerradas a questão do risco de desigualdade foi considerado significativo,
justificou o regresso às escolas em muitos países e a recuperação dos impactos
negativos é a grande prioridade tal como também sublinham entidades internacionais ligadas à
educação como a UNESCO.
Assim, seria absolutamente
necessário conhecer o que poderemos chamar de EnsinoJPresencial de
emergência pois não basta regressar à escola para que se apaguem as eventuais consequências de quatro meses sem aulas presenciais
Em primeiro lugar parece
imprescindível conhecer com rigor a situação em cada escola ou agrupamento, quer no volume
de situações, quer na sua tipologia.
No entanto e com os indicadores conhecidos, parece possível antecipar algumas medidas que poderão contribuir para a desejada
e imprescindível recuperação de muitos alunos.
Redefinir o número de alunos por
turma e ou a constituição de grupos para trabalho tutorial.
Reforçar os dispositivos de apoio
específico a alunos com necessidades mais acentuadas e a alunos com
necessidades especiais reforçando os recursos das EMAEI. Apesar de ser parte
interessada parece-me claro a necessidade de reforço de profissionais de
psicologia da educação.
É claro que é necessário investimento
em recursos pelo que reforço a minha estranheza pela quase total ausência da
educação no Programa de Estabilização Económica e Social e no Orçamento
Suplementar apenas se refere a dotação para apoio à transição digital, o novo
mantra.
Neste quadro o Ministério admite
a contratação de professores “se for necessário”. O que não é particularmente
animador.
Talvez seja de recordar que
estamos falar do futuro e do direito à educação e que, desculpem o toque
demagógico, esse futuro depende mais do investimento na educação para todos que
do investimento no Novo Banco só para alguns.
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