A imprensa divulga hoje um
trabalho “Social inequalities in traditional and emerging screen devices among Portuguese children: a cross-sectional study” publicado em BMC Public Health e
realizado por uma equipa do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da
Universidade de Coimbra que merece reflexão atenta.
O trabalho envolveu 8.430
crianças entre os três e os dez anos e sugere que até aos cinco anos as crianças
passam por dia e em média 154 minutos em frente a um ecrã considerando os
diferentes dispositivos disponíveis. Nas crianças mais velhas o tempo de
exposição é superior, 201 minutos em média. Independentemente de outras variáveis
como género, idade ou dispositivo utilizado, o tempo de exposição é sempre
maior em famílias de menor estatuto académico e económico.
Recordo que há poucos meses a agência
francesa de saúde pública lançou um novo alerta a partir de estudos realizados
relativos à exposição excessiva das crianças aos ecrãs, sobretudo nas crianças
até aos três anos.
Sublinhe-se também que a OMS, tal
como a Associação Americana de Pediatria indicam extrema prudência para
crianças até aos dois e anos e aconselham a que tempo de exposição ao ecrã não
exceda uma hora diária até aos cinco anos e duas horas depois dos seis anos.
Estão também identificados os
riscos da sobreexposição, sedentarismo e obesidade, falta de qualidade e tempo
de sono ou alterações no desenvolvimento, por exemplo na linguagem. A evidência
também sugere que os riscos aumentam quando, como é frequente, a presença
excessiva em frente de um ecrã está associada a um menor nível de interacção
com adultos, designadamente com os pais.
Como tantas vezes já tenho
referido o ecrã, qualquer ecrã, é hoje a “baby-sitter” de muitíssimas das
nossas crianças e adolescentes que neles, ecrãs, passam um tempo enorme
“fechados”, às vezes "acompanhados" de outros miúdos tão sós quanto
eles.
Nos últimos tempos e pelas razões
que conhecemos a presença face aos ecrãs terá crescido significativamente, o
mundo passou a estar no ecrã, até a escola ou a creche e o jardim-de-infância.
Acontece também que, como
referido acima, durante o período de sono e sem regulação familiar muitas
crianças e adolescentes estarão diante de um ecrã, pc, tv ou
"smartphone". Com é óbvio, esta situação não pode deixar de implicar
consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e distracção,
ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar num quadro
geral de pior qualidade de vida.
Comer é necessário faz bem às
crianças, mas comer excessivamente e produtos de má qualidade, provoca sérios
problemas de saúde. Que se eduque o consumo, sem se diabolizar ou exaltar o
produto.
Estas matérias, a presença das
novas tecnologias na vida dos mais novos, são problemas novos para muitos pais,
alguns deles com níveis baixos de alfabetização informática como constato em
muitas conversas que mantenho com grupos de pais.
Considerando as implicações
sérias na vida diária e que só estratégias proibicionistas não são muito
eficazes, importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais
para que a utilização imprescindível seja regulada e protectora da qualidade de
vida das crianças e adolescentes.
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