A terminologia que usamos e que,
naturalmente, está em permanente construção oferece, por vezes, algumas
situações menos esperadas.
Até à altura em que devido a
circunstâncias familiares a comecei a ouvir, não conhecia a expressão
"obras de arte" como designação das estruturas mais conhecidas, por
mim pelo menos, por pontes. De facto, no mundo da construção civil uma ponte não
é uma ponte, é uma obra de arte. Devo dizer que me parece ser uma opção mais
bonita e que desconheço a sua origem.
No entanto, depois de alguma
surpresa inicial, acho que a designação é apropriada. Uma ponte é um
dispositivo, por assim dizer, que, em muitas circunstâncias, permite a ligação
mais fácil, ou é mesmo a única forma de ligar dois pontos, duas instâncias, que
uma qualquer barreira separa. Dito de outra forma, uma ponte é algo que permite
a comunicação.
Embora estejamos, diz-se, num
mundo cuja característica mais marcante é a comunicação, tenho para mim que
atravessamos uma séria e generalizada dificuldade em comunicar. São demasiados
os monólogos e poucos os diálogos. As barreiras, os muros e valores que
acreditávamos em desaparecimento emergem e minam a comunicação, os
entendimentos.
Devo dizer que gostava de ser eu
a estar enganado mas um olhar sobre o que nos rodeia, seja à escala individual,
miúdos sós, famílias com baixos níveis de comunicação, seja a escalas de outra
dimensão, as dificuldades ou até a ausência de diálogo, de comunicação, é
preocupante em muitos contextos de vida. No caso dos miúdos, nas actuais circunstâncias e em relação à escola a comunicação está altamente comprometida para muitas crianças.
Nesta perspectiva e pela sua
importância, acho que qualquer dispositivo que promova a comunicação, que
aproxime distâncias, que facilite a relação, é sempre uma obra de
arte.
E como estamos necessitados de
obras de arte. A questão é que a arte nunca parece ser uma prioridade.
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