Aí está o produto sazonal que dá
pelo nome de “rankings escolares” nas suas diferentes declinações. Agora, 2019.
Apesar de continuar com
dificuldade em defender a sua bondade não tenho uma atitude fundamentalista
face à sua construção considerando, sobretudo, a evolução que se tem verificado
nos últimos anos, quer na disponibilização de informação por parte do ME para
além dos “meros” resultados da avaliação externa, quer na forma como essa
informação é tratada e divulgada por diferentes entidades. Continuo também a sentir-me incomodado com as estratégias de marketing dos negócios da educação a propósito da divulgação dos rankings.
A mais frequente defesa da sua construção
assenta na importância da avaliação externa. No entanto, é evidente que a
imprescindível avaliação externa não tem que, necessariamente, obrigar à construção
dos rankings que, aliás, alguns países não realizam. Curiosamente, em Singapura terá sido decidido em 2018 abolir a construção e divulgação de rankings escolares com base nos resultados em exames bem como não divulgar outras
informações de natureza comparativa sobre o desempenho escolar dos alunos.
A decisão, de acordo como o
Ministro da Educação, Ong Ye Kung, assenta no princípio a promover junto dos
alunos e famílias que “aprender não é uma competição”. Aliás, é interessante considerar
toda a argumentação e sustentação da medida. A decisão é ainda mais surpreendente
considerando a posição cimeira habitualmente ocupada por Singapura nos estudos
comparativos internacionais e na sua habitual defesa destes dispositivos.
Mas de facto, existindo e apesar
das mudanças que se têm verificado que mostram, ou não, os rankings?
Dificilmente mostrarão algo de
substantivamente diferente.
Mostram que genericamente as
escolas privadas apresentam melhores resultados e que também existem escolas
privadas com resultados mais baixos.
Mostram que a maioria das escolas
que maior discrepância apresenta entre a avaliação externa e a avaliação
interna, sendo esta "inflacionada", são privadas sendo algumas
persistentes na tarefa.
Ao contrário, mostram das que se
revelam mais exigentes a maioria é do ensino público.
Mostram que existem escolas
públicas com bons resultados e escolas públicas com resultados menos bons.
Mostram que existem escolas que
face ao contexto sociodemográfico que servem conseguem bons resultados ou, pelo
menos, progresso no trajecto dos alunos e que existem escolas públicas que
ainda não conseguem contrariar o destino de muitos dos seus alunos.
Mostram que o nível de retenção é
elevado e que o recurso à retenção não faz subir os resultados dos alunos.
Mostram que a menor dimensão das
turmas pode em escolas em contextos menos favoráveis promover a melhoria de
resultados. Curiosamente, na passada semana não avançou uma proposta de redução do número de alunos por turma.
Mostram que a tradição ainda é o
que era, pais (mães) mais escolarizados, têm, potencialmente, filhos com
melhores resultados.
Mostram que as escolas públicas
são as que mais progressos promovem nos alunos.
Mostram que nas escolas com
melhores resultados, em regra, são as que têm menos alunos abrangidos pela
Acção Social Escolar.
Mostram que a escola, os
professores, fazem a diferença.
Mostram ainda que se continua a
falar de “melhores escolas” e “piores escolas”
Mostram que …
Enfim, os rankings mostram tudo,
só não mostram o que se fará a seguir com a informação que os rankings mostram.
Na verdade, também não mostram o tanto que não se consegue medir mas se pode
avaliar e que é tão essencial como o que se mede.
Três notas finais.
1 - A propósito de rankings -
Gert Biesta da Universidade Stirling numa obra notável, "Good Education in a Age of Measurement -
Ethics, Politics, Democracy", afirma que uma obsessão centrada na
medida, assenta na gestão continuada de uma dúvida, "medimos o que
valorizamos ou valorizamos o que medimos?"
2 - Por onde andam nos rankings
os alunos com necessidades educativas especiais? (desculpem o termo não inovador dentro do
novo paradigma mas ainda não me habituei às novas "não categorias"
como "adicionais", "selectivas" ou "adicionais"). Provavelmente à espera da operacionalização
de um novo indicador-chave da avaliação das escolas, a inclusão de cuja consideração na construção dos rankings não me dei conta.
3 – Continuo com a dúvida expressa
por Gil Nata e Tiago Neve do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da
U. do Porto que num texto no Público a propósito dos rankings do ano passado escreviam,
“Assim, passados 20 anos, a pergunta impõe-se onde estão as evidências de que a
publicação dos rankings tenha contribuído para a melhoria do sistema
educativo?”
Para o ano cá estaremos a tentar
perceber que efeito que terá nos rankings o atípico ano que está a terminar.
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