segunda-feira, 22 de junho de 2020

UM OUTRO LADO DA TRANSIÇÃO DIGITAL


Num trabalho do DN lê-se que em diferentes agrupamentos e escolas muitas famílias de alunos identificados com necessitando de equipamento para acesso ao ensino presencial e integrando, naturalmente, os escalões mais carenciados no âmbito da Acção Social Escolar não procederam ao seu levantamento nas escolas. Estes equipamentos foram colocados à disposição das escolas pelas autarquias e por entidades particulares
Ao que se refere, este procedimento estará associado à obrigatoriedade de devolução deste material até 5 de Julho e à responsabilização das famílias pelo estado dos equipamentos.
Não vou entra numa discussão que dificilmente será conclusiva em torno da interpretação
da recusa de muitas famílias em levantar e usar os equipamentos.
Preocupa-me mais os efeitos.
Numa situação completamente atípica que não terá um fim próximo, dado o volume de situações e numa perspectiva de proteger a equidade claramente ameaçada julgo que, tal como a exigência de devolução dos manuais, a obrigatoriedade de devolução dos equipamentos deveria ser repensada de forma a que as famílias pudessem ultrapassar eventuais razões para o seu não levantamento.
Recordo que ainda não é seguro que em Setembro tenhamos aulas presenciais, que temos pela frente uma gigantesca tarefa de recuperação de aprendizagens não realizadas, de recuperação de alunos que perderam na distância a que ficaram da escola, de recuperação o impacto negativo e significativo que estes meses de confinamento sem escola terão causado em alunos com necessidades especiais.
O deslumbramento com o novo mantra, transição digital, ainda terá que gerir situações como estas, as famílias que estão tão longe que a não percebem.
Sim, é preciso que se responsabilizem, que não se excluam e só a educação e a persistência o podem conseguir.
Desistir não é opção.

2 comentários:

Rui Ferreira disse...

Há de tudo Zé Morgado. O que aponta é apenas mais uma situação. Outros há (falo até da minha própria DT) que, mesmo dado, sem a necessidade de entregar leia-se, também não o querem. Até aqui o regime presencial, o da relação, minorava a sua ocorrência. Dá-se o nome de expetativas escolares. Como se combate? Não é com toda a certeza com as pedagogias ativas, com as salas invertidas, com a flexibilidade, com o afrouxamento da exigência académica nem com a gestão errática da disciplina.

Zé Morgado disse...

Olá Rui. É verdade que todas as situações têm sempre múltiplas razões para que se verifiquem. A questão é o que fazemos perante as consequências e as eventuais causas. Nas minhas conversas com pais recorro com frequência à ideia de que as crianças nem sempre gostam do que precisam e nem sempre precisam do que gostam. A questão, difícil obviamente, é como equilibramos tudo isto. Ainda a propósito da notícia que motivou o meu texto, o que me deixou verdadeiramente preocupado foi o que aparecia na caixa de comentários, assustador e revelador.