A minha avó Leonor usava com muita frequência o termo
desconsolo para caracterizar qualquer situação ou facto que considerasse menos
positivo, "está um frio que é um desconsolo", "não faças isso, é
um desconsolo", "são pessoas infelizes, é um desconsolo". Se ela ainda estivesse connosco muito mais desconsolo haveria de encontrar. Os tempos
são tempos de desconsolo.
Stig Dagerman acha que a "nossa necessidade de consolo
é impossível de satisfazer". Se se entender como ele que "só existe
uma consolação verdadeiramente real: a que me diz que sou um homem livre, ser
inviolável, soberano dentro dos seus limites", então estaremos condenados
ao desconsolo. Um homem livre, inviolável, soberano, parece do domínio da
utopia, não da distopia em que parecemos viver.
No entanto, sou um tipo moderadamente optimista, quando olho
para miúdos pequenos que estão a aprender a ser gente, os meus netos por
exemplo, gosto de acreditar que não estarão condenados ao desconsolo. Talvez
possamos ser menos exigentes que Dagerman no seu angustiado opúsculo, talvez
possamos encontrar consolo, algum consolo.
Do meu ponto de vista a dignidade e o afecto são fontes
fundamentais de consolo e acho que para muitos de nós a dignidade e o afecto
serão alcançáveis, devendo mesmo ser exigidos.
É, se não deixarmos que nos roubem a dignidade e se
encontrarmos o Outro a nossa necessidade de consolo é possível de ser cumprida,
quase.
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