No Público encontra-se a
referência a um inquérito realizado pela Fenprof sobre a forma como está
decorrer o ensino à distância de emergência.
Responderam 3548 docentes sendo
que a maioria, 63.9%, dão do 3º ciclo e secundário.
Não conheço os detalhes do estudo
e a sua robustez, mas julgo que alguns indicadores merecem reflexão e
associam-se a inquietações aqui expressas desde o final do 2º período.
Parece de sublinhar que 93,5% dos
docentes inquiridos entende que se agravaram as desigualdades entre alunos
sendo que mais de metade, (54,8%) continuava na altura da resposta sem
conseguir contactar com todos os seus alunos, através da net ou por outras vias.
Por outro lado, dos cerca de 75% de docentes com alunos com necessidades
especiais, 40,8% referem desconhecer se as medidas de apoio disponibilizadas a
estes estudantes serão as “adequadas” ainda que dos professores que afirmam conhecer
o trabalho desenvolvido com os alunos com mais necessidades, 43,9% consideram que
as medidas de apoio são “adequadas”.
São ainda interessantes as
referências à avaliação associadas à gestão curricular na medida em que são
leccionados conteúdos “novos” que não chega aos alunos que estão “distantes” da
escola, sendo que 70,5% dos professores afirmam a leccionar novos conteúdos e
47,8% avaliarão estes conteúdos no final deste período.
No que respeita ao seu próprio
trabalho, 65% dos inquiridos afirma que a exigência do ensino à distância é mais
exigente que o trabalho presencial.
Neste quadro referem cansaço e exaustão
associados também à percepção de “falta de apoio” do ME enquanto referem o
apoio sentido por parte das direcções escolares, 86.5%, e dos pais, 91,5%.
Em síntese, sublinham-se os riscos
acrescidos de desigualdade entre alunos no quadro do ensino à distância e que,
evidentemente, envolve múltiplas variáveis, a disparidade de práticas e
entendimentos, veja-se o caso da resposta a alunos com necessidades especiais ou
a gestão curricular e avaliação.
Ainda de registar a percepção de
exigência profissional desta situação e o apoio percebido por parte de
direcções e de escolas e agrupamentos e dos pais contrastando com uma bem menor
percepção de apoio por parte do ME.
Ainda não sabemos como poderá vir
a ser o próximo Setembro no que respeita ao modelo de resposta educativa embora
o Ministro da Educação tenha referido em entrevista recente a possibilidade de
recurso a um modelo misto de aulas presenciais e aulas online.
Mas já sabemos o enorme esforço
que terá de ser feito por escolas e professores no sentido de recuperar, tanto
quanto possível, as crianças e adolescentes que ficaram mais distantes da
escola, de recuperar as aprendizagens não realizadas por diferentes razões, desmotivação,
metodologias e dispositivos inadequados para algumas idades, problemas de
competência digital e acesso a recursos e à rede, contextos familiares pouco amigáveis,
necessidades especificas de alguns alunos, etc. Não está em causa o esforço e
empenho dos professores e de outros intervenientes mas, sobretudo, as circunstâncias que estes tempos
criaram.
Creio que começa a ser tempo de
irmos conhecendo os objectivos e orientações, os dispositivos, os recursos
humanos e de outra natureza, etc. com que as escolas contarão já em Setembro
para lidar com esta situação.
Os riscos de insucesso são enormes e como sempre
são selectivos, ameaçam mais uns que outros.
Sem comentários:
Enviar um comentário