terça-feira, 9 de junho de 2020

DOS ALUNOS E DAS APRENDIZAGENS QUE FICARAM À DISTÂNCIA

No Público encontra-se a referência a um inquérito realizado pela Fenprof sobre a forma como está decorrer o ensino à distância de emergência.
Responderam 3548 docentes sendo que a maioria, 63.9%, dão do 3º ciclo e secundário.
Não conheço os detalhes do estudo e a sua robustez, mas julgo que alguns indicadores merecem reflexão e associam-se a inquietações aqui expressas desde o final do 2º período.
Parece de sublinhar que 93,5% dos docentes inquiridos entende que se agravaram as desigualdades entre alunos sendo que mais de metade, (54,8%) continuava na altura da resposta sem conseguir contactar com todos os seus alunos, através da net ou por outras vias. Por outro lado, dos cerca de 75% de docentes com alunos com necessidades especiais, 40,8% referem desconhecer se as medidas de apoio disponibilizadas a estes estudantes serão as “adequadas” ainda que dos professores que afirmam conhecer o trabalho desenvolvido com os alunos com mais necessidades, 43,9% consideram que as medidas de apoio são “adequadas”.
São ainda interessantes as referências à avaliação associadas à gestão curricular na medida em que são leccionados conteúdos “novos” que não chega aos alunos que estão “distantes” da escola, sendo que 70,5% dos professores afirmam a leccionar novos conteúdos e 47,8% avaliarão estes conteúdos no final deste período.
No que respeita ao seu próprio trabalho, 65% dos inquiridos afirma que a exigência do ensino à distância é mais exigente que o trabalho presencial.
Neste quadro referem cansaço e exaustão associados também à percepção de “falta de apoio” do ME enquanto referem o apoio sentido por parte das direcções escolares, 86.5%, e dos pais, 91,5%.
Em síntese, sublinham-se os riscos acrescidos de desigualdade entre alunos no quadro do ensino à distância e que, evidentemente, envolve múltiplas variáveis, a disparidade de práticas e entendimentos, veja-se o caso da resposta a alunos com necessidades especiais ou a gestão curricular e avaliação.
Ainda de registar a percepção de exigência profissional desta situação e o apoio percebido por parte de direcções e de escolas e agrupamentos e dos pais contrastando com uma bem menor percepção de apoio por parte do ME.
Ainda não sabemos como poderá vir a ser o próximo Setembro no que respeita ao modelo de resposta educativa embora o Ministro da Educação tenha referido em entrevista recente a possibilidade de recurso a um modelo misto de aulas presenciais e aulas online.
Mas já sabemos o enorme esforço que terá de ser feito por escolas e professores no sentido de recuperar, tanto quanto possível, as crianças e adolescentes que ficaram mais distantes da escola, de recuperar as aprendizagens não realizadas por diferentes razões, desmotivação, metodologias e dispositivos inadequados para algumas idades, problemas de competência digital e acesso a recursos e à rede, contextos familiares pouco amigáveis, necessidades especificas de alguns alunos, etc. Não está em causa o esforço e empenho dos professores e de outros intervenientes mas, sobretudo, as circunstâncias que estes tempos criaram.
Creio que começa a ser tempo de irmos conhecendo os objectivos e orientações, os dispositivos, os recursos humanos e de outra natureza, etc. com que as escolas contarão já em Setembro para lidar com esta situação.
Os riscos de insucesso são enormes e como sempre são selectivos, ameaçam mais uns que outros.

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