Nos últimos dias a discussão e referências à questão da
retenção ou não retenção dos alunos no ensino básico na sequência da intenção
expressa pelo Governo de criar um plano de retenção no ensino Básico têm sido permanentes e para todos os gostos e agendas.
Talvez vos possa parecer estranho mas tenho recordado a mítica
expressão que corria no Alentejo relativa à Barragem do Alqueva, “Construam-me porra!”
Durante as últimas décadas, perco a conta a planos,
projectos, programas, experiências inovadoras que chegaram às escolas para
combater o insucesso ou, pela positiva, promover o sucesso, promover a leitura
e escrita, promover a matemática, promover a educação científica, promover a
educação inclusiva, a relação entre escola e pais e encarregados de educação,
promover a expressão artística e a criatividade, promover comportamentos
saudáveis e actividades desportivas, literacia financeira, promover a inovação
e as novas tecnologias, para não falar de iniciativas mais
"alternativas", por assim dizer, e que têm poderes mágicos, parece. A
lista enunciada é apenas exemplificativa, mas relembro o Programa
Interministerial de Promoção do Sucesso Escolar (PIPSE) criado em 1987 e de que
muita gente ainda se lembra e outra tanta desconhecerá.
No entanto e sem ser por acaso, com demasiada frequência
muitos destes projectos vêm de fora das escolas, as origens são variadas, não
chegam a envolver de forma robusta a gente das escola, esmagada pelo trabalho,
burocracia e outros constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor
forma possível o dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado.
Também com demasiada frequência muitos destes projectos
morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são avaliados de forma sólida
e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o portfólio dos organizadores e
proporcionam umas experiências que se deseja positiva aos intervenientes no
tempo que durou, mas sem mais impacto.
Todavia, preciso de afirmar que muitos destes Planos,
Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos notáveis que, também com
frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que todos os envolvidos
mereceriam e também afirmar que apesar de tudo a mudança foi significativa.
Também demasiadas vezes estas iniciativas consomem recursos
com baixo retorno e ao serviço de múltiplas agendas.
Também é minha convicção que entre a gente da educação é
possível estabelecer algum entendimento sobre o que está por fazer.
Com real autonomia, com mais recursos e com modelos
organizativos mais adequados as escolas poderiam fazer certamente mais e melhor
que quem vem de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas
transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e
avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares, auxiliares informados sobre
sinais que podem indiciar episódios de bullying, seria muito importante para
além do mais auxiliares poderiam fazer relativamente a outras matérias.
Directores de turma com mais tempo para os alunos e menos
burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em múltiplos aspectos do
comportamento e da aprendizagem. E também recursos suficientes para programas
de tutoria e dispositivos de apoio competentes.
Psicólogos e outros técnicos em número mais adequado, o que
verifica é inaceitável, poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas
acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem iniciativas no âmbito da relação
entre escola, pais e comunidade seriam, a experiência mostra-o, um investimento
com retorno.
São apenas alguns exemplos de respostas com resultados
potenciais com um custo que talvez não seja superior aos custos de tantos
Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras destinadas a múltiplas
matérias e com custos associados de “produção” que já me têm embaraçado, mas a
verdade é que as agendas e o marketing têm custos.
O desenvolvimento das comunidades exige ajustamentos
regulares no que fazemos em matéria de educação e em todos os patamares do
sistema, é verdade. Umas vezes melhor, outras vezes com mais sobressaltos temos
feito um caminho importante e muito mais ainda vamos ter que fazer mas os
ajustamentos que decorrem da regulação e avaliação não têm que ir atrás da
“mágica” ideia da inovação, da resposta x.0, fazer como diz o Pedro Abrunhosa
“o que nunca foi feito”.
Mais uma vez desculpem o risco de ser injusto mas sinto já
cansaço face à narrativa da "inovação" e de mais um Plano.
Acabo como comecei recordando a expressão corrente no
Alentejo relativa à Barragem do Alqueva, “Construam-me porra!”.
Também na educação, faça-se e façamos o que temos a fazer.