O discretíssimo Ministro da Educação afirmou em entrevista à Lusa que está a ser preparada uma medida que possibilite às direcções de
escolas e agrupamentos gerir a dimensão das turmas. Esta “autonomia” estará
balizada pela rede definida e espaços o que, apesar de ser um passo positivo, minimizará o impacto real da medida dados os constrangimentos em
matéria de recursos docentes e espaços. Acontece, por exemplo, que
nem sempre se verifica a redução do efectivo de turma quando existem alunos com
necessidades educativas especiais embora agora não se possa usar esta terminologia.
Por outro lado, como já escrevi e insisto, seria desejável
que em conjunto com a autonomia da gestão do efectivo de turma se considerasse
um outro importante aspecto nem sempre valorizado, o número de turmas por
professor. Muitos professores lidam com um número elevado de turmas implicando o trabalho em muitas situações com mais de 120 alunos. Parece dispensável explicitar as implicações negativas
desta situação.
A revisão de estudos sobre o número de alunos por turma e o
seu impacto mostra o que também conhecemos, existem vantagens em turmas de
menor dimensão que podem ser mais ou menos significativas em função das
variáveis em análise.
Parece-me de acentuar que os estudos sugerem com clareza a
existência de impacto positivo no clima e comunicação na sala de aula, na maior
facilidade de práticas educativas mais diferenciadas, no comportamento dos
alunos, etc., o que, evidentemente deve ser considerado.
Alguns estudos, apenas centrados em resultados, não
encontram diferenças significativas, mas também me parece que nem sempre são
consideradas variáveis importantes, de contexto por exemplo, o que
frequentemente também não é tido em conta nos discursos de alguns economistas
da educação.
É também fundamental considerar as diferentes características
dos diversos territórios educativos independentemente da sua classificação como
TEIP. Na verdade, é necessário considerar as diferenças de contexto, isto é, a
população servida por cada escola, as características e dimensão da escola, a constituição
do corpo docente, os recursos disponíveis, etc. Importa ainda sublinhar que a
qualidade e sucesso do trabalho de professores e alunos depende de múltiplos
factores, sendo que a dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa
considerar, vejam-se relatórios e estudos nesta área, as práticas pedagógicas,
os processos de organização e funcionamento da sala de aula e da escola,
recursos e dispositivos de apoios, bem como o nível de autonomia de cada escola
ou agrupamento, entre outros. Daí a importância de promover uma autonomia real.
Aliás, dentro do que entendo por verdadeira autonomia das escolas, deveriam ser
a ter a competência para definir e organizar as turmas embora aceite a
existência de orientações nesse sentido.
Aliás, também com base na autonomia das escolas poderiam ser
consideradas outras opções como a presença de dois professores em sala de aula
ou, insisto, programas de tutoria com recursos suficientes. Em algumas
circunstâncias pode ser mais vantajosa que a redução do número de alunos por
turma.
Acresce nesta matéria a importância da qualidade do trabalho
em turmas com alunos com necessidades educativas especiais o que,
evidentemente, deve ser considerado na análise do efectivo de turma, desde logo
cumprindo o que esteja legislado e acautelando a tentação de “inclusões
administrativas” em que os alunos ficam “entregados” e não “integrados”.
Diga-se ainda que é quase dispensável referir a diferença
entre trabalhar com 26 ou 28 alunos num estabelecimento privado de acesso
“protegido” ou com o mesmo número de alunos num mega-agrupamento de uma escola
pública em que um professor lida com várias turmas, centenas de alunos ou se
desloca entre escolas para trabalhar.
Não só por esta razão, dimensão das turmas e qualidade do
trabalho dos alunos, de todos os alunos, e dos professores, também me parece
que deveria ser promovida uma verdadeira desburocratização do trabalho nas
escolas e promovido algum ajustamento na sua organização e funcionamento o que
certamente libertaria tempo de professores para trabalho em turma ou em apoios
que promovessem qualidade.
Sei que mudanças neste sentido são politicamente difíceis e
terão custos. No entanto, são imprescindíveis e os custos do insucesso e da
exclusão são incomparavelmente mais caros.
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