No Público divulga-se uma investigação
desenvolvida na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto que sugere que
o estilo de liderança dos directores das escolas tem um impacto importante na
motivação dos professores pois existe uma “correlação significativa entre a
forma como são geridos os estabelecimentos de ensino e a relação que os
docentes têm com a sua profissão.
O actual modelo de direcção unipessoal das escolas e agrupamentos
e forma como é desempenhado volta com regularidade à agenda incluindo o
questionar do próprio modelo face a uma direcção colegial. Têm existido estudos
de opinião e tomadas de posição individuais ou manifestos que alimentam a discussão ou mesmo a necessidade de alterar o modelo de direcção.
Como já tenho afirmado a propósito de outras matérias,
talvez fruto do ambiente de fortíssima crispação que nos últimos anos envolve a
educação, os debates e as ideias também tendem a ser crispados, com opiniões
definitivas e sem margem de entendimento e, frequentemente, com agendas menos
explícitas. O modelo de gestão das escolas será apenas mais um exemplo deste
cenário.
Com o atrevimento de quem não vive por dentro o quotidiano
das escolas, mas procura acompanhar de forma atenta o universo da educação,
retomo algumas notas.
Conforme tenho dito sempre me pareceu claro que a
transformação da direcção de escolas e agrupamentos num modelo unipessoal e a
sua forma de eleição através dos conselhos gerais, acompanhada por uma política
de mega-agrupamentos diminuindo substancialmente o número de unidades
orgânicas, gosto desta designação, se inscreveu na sempre presente tentação de
controlo político do sistema. São conhecidos casos, alguns chegam à imprensa,
de processos de eleição de direcções escolares que mais não são do que formas
de colocar pessoas com o alinhamento certo na função. Aliás, o próprio
funcionamento dos Conselhos Gerais é, em algumas situações, um exemplo disto
mesmo. Assim sendo, o modelo de gestão unipessoal e a forma de eleição dos
directores não são garantias de “mais democracia” ou “melhor democracia” nas
escolas.
Dado um pecado estrutural do nosso sistema educativo, a
ausência de dispositivos de regulação ao longo de décadas, coexistem boas
experiências e práticas em situações de direcção unipessoal com situações bem
negativas.
Por outro lado, importa recordar que em muitas
circunstâncias também a “gestão democrática", de democrática não tinha
assim tanto e também se verificavam casos gritantes de menor competência.
Dito isto, parece-me que tanto quanto ou mais do que o
modelo de direcção, unipessoal ou colegial, julgo de reflectir na forma de
eleição, participam todos os docentes ou um pequeno grupo que “representa” o
corpo docente no conselho geral, o mesmo se passando com os funcionários.
Por outro lado, também me parece que deve existir um claro
reforço do papel dos Conselhos Pedagógicos no funcionamento de escolas e
agrupamentos. Parece-me também clara a vantagem da presidência do Pedagógico
ser independente da direcção da escola, sobretudo num modelo de direcção
unipessoal
Importa também que a reflexão sobre a direcção de escolas e
agrupamentos seja acompanhada de uma verdadeira reflexão sobre o quadro de
autonomia nas suas várias dimensões e equilíbrios. Qual o efeito da anunciada
municipalização ou “proximidade”, como também lhe chamam, na autonomia de
escolas e agrupamentos.
É claro que quanto mais sólido for o modelo de autonomia das
escolas mais importante se torna o papel e função da direcção,
independentemente do modelo. Esta é do meu ponto de vista a questão central.
Muitos estudos e a experiência mostram que nas organizações,
incluindo escolas, a qualidade das lideranças tem um impacto forte no
desempenho das instituições e também de todos os que nela funcionam. Boas
lideranças escolares traduzem-se em melhores e mais estáveis climas de
trabalho, maior nível de colaboração entre os profissionais, menor absentismo,
melhores resultados ou menos incidentes de natureza disciplinar, melhor relação
com pais e comunidade, entre outros aspectos. O estudo agora divulgado da
Universidade do Porto vai neste sentido.
Camões já afirmava que um fraco Rei faz fraca a forte gente”
o que numa actualização republicana poderá entender-se como a defesa de
lideranças competentes, com uma gestão participada, com mecanismos de eleição
alargados, transparentes, escrutinados e com, insisto, mecanismos de regulação
que previnam excessos e abusos.
Alguns episódios na contratação de docentes, de funcionários
ou nos processos que envolvem técnicos e docentes envolvidos nas AEC são
exemplos a ter em conta pela forma negativa como foram geridas por algumas
direcções de escolas e agrupamentos.
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