sábado, 23 de novembro de 2019

A GENEROSIDADE DAS OLIVEIRAS


Um dia de sábado dedicado à limpeza das oliveiras. A terra, felizmente, está carregada de água, não dá para a trabalhar, os alhos que terão que esperar uns dias para irem para a terra.
Assim, sempre com a companhia do Mestre Zé Marrafa e colaboração indispensável mas barulhenta das motosserras e do tractor cá andamos.
Sempre que olho para as oliveiras, árvores que considero das mais bonitas, especialmente aquelas com muitos séculos como algumas aqui do Monte e que são dos tempos em que os mercados eram uma feira e não uns deuses, que já levam um tronco que dois homens não abraçam, admiro a sua generosidade.
Começam por dar as azeitonas que se comem em três variantes, pisadas, retalhadas e de conserva, qual delas a mais saborosa, este ano as pisadas e retalhadas que já estamos a consumir ficaram que nem vos conto. Toda a gente tem uma arte de as temperar e, claro, nós também já temos os segredos, aprendemos com o Mestre Marrafa.
As azeitonas vão para o lagar e virá o azeite, a alma do comer bom, e como tem alma o azeite do Meu Alentejo.
Para além da azeitona e do azeite, a oliveira ainda é a mais calorosa das árvores, sempre a aquecer-nos. Aquece-nos quando maldosamente lhe batemos, varejamos, para nos dar a azeitona, aquece-nos quando a limpamos de pés de burro e cortamos os ramos e troncos para assegurar a sua renovação, aquece-nos quando rachamos e arrumamos a lenha que nos deu e, finalmente, ainda nos aquece quando nas noites longas e frias do Inverno arde no lume de chão ou na salamandra.
Como bondade final, esta generosa capacidade de dar vive numa escala incomensurável para nós, dura séculos.
São tão bonitas e generosas as oliveiras.
São também assim os dias do Alentejo, vamos à lida.

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