Como costumo dizer que uma das
vantagens de ser velho é ter histórias para contar. Sempre que tenho
oportunidade, é algo que me dá muito gozo, também gosto de ouvir histórias da gente
dos outros tempos para juntá-las às minhas. Uma das fontes é o meu
amigo, o Mestre Zé Marrafa que trabalha comigo cá no Monte. Acabada
a apanha da azeitona ainda andamos a limpar oliveiras e depois teremos a lenha para
esgalhar e traçar. Tarefa para mais uns dias.
Enquanto andamos na lida surgem
as lérias, neste caso histórias de lá atrás no tempo.
Fiquei assim a conhecer algo de
que nunca tinha ouvido falar, o destelo, e uma função, o Apregoador, há muito
desaparecida no meu Alentejo. Vamos por partes, quando se considerava que a
época da apanha da azeitona tinha terminado, o apregoador, já explico, avisava
que se poderia ir ao destelo. O destelo é a busca de alguma azeitona que ficou
para trás caída ou na oliveira e que as pessoas de menores recursos ainda
vinham pacientemente, catar, colher e vender no lagar ou guardar para conserva.
Lembrei-me do lindíssimo “Os Respigadores e a Respigadora” de Agnès Varda.
O Apregoador tinha uma função
muito curiosa, cabia-lhe anunciar em quatro sítios diferentes da vila aquilo
que lhe pediam para apregoar, desde um produto que estaria à venda no mercado,
um monte ou uma herdade para vender, a realização de um qualquer evento, etc.
Este trabalho pioneiro de publicidade e marketing realizava-se a troco de uma
oferta por parte do interessado em apregoar.
O Velho Marrafa que em novo ainda
andou ao destelo, estranha como as pessoas hoje não ligam a tantas coisas que
deixam estragar sem aproveitar. Dói-lhe a alma de ver tanta azeitona a ficar
nas árvores sem ser colhida e nós a importarmos azeite.
Também a mim, mas acho que se
chama evolução.
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