Durante a semana a imprensa
divulgou um trabalho merece atenção. Um grupo de pediatras Centro da Criança e
do Adolescente do Hospital CUF Descobertas com a colaboração de uma médica de
família e de 152 alunos de 6º ano de duas escolas de Cascais, estudou a relação
estabelecida com consolas, smartphones e videojogos.
O trabalho decorreu da frequência
com que nas consultas de pediatria os pais revelam dificuldades e receios face à
ligação dos filhos com consolas e smartphones o ambiente dos videojogos.
Apesar de algumas limitações do
estudo os dados divulgados em artigo na Acta Médica Portuguesa sugerem algo que
também tem sido constatado noutros trabalhos, os riscos são óbvios e os
problemas estão presentes.
A maioria das crianças refere
gastar menos de duas horas por dia a jogar. No entanto, 19,2% referiram uma
utilização diária entre duas a três horas e 9,9% jogavam mais de quatro horas
por dia durante a semana. Durante o fim-de-semana, 17,1% das crianças referiu
jogar duas a três horas diárias e 24,3% mais de quatro horas por dia. A
maioria, 70,9%, refere jogar sozinho enquanto 58,8% o faz com amigos. Fora
deste estudo está o conteúdo dos videojogos, um factor importante desta
complexa equação.
Considerando os critérios
definidos no Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais
(DSM-5), a referência mundial no âmbito da saúde mental 3,9% das crianças
inquiridas revelaram comportamentos típicos de dependência e um terço (33,3%)
foram consideradas em risco.
Apesar de, tal como os autores
referem, ser necessária alguma prudência na extrapolação, os indicadores são
preocupantes e, como já referi em linha com outros trabalhos envolvendo as
mesmas questões.
Para além da discussão em aberto
sobre os conteúdos dos videojogos e o seu impacto em crianças e adolescentes a
questão central colocada é a quantidade de tempo usado pelas crianças nesta “actividade”.
De facto, muitos de nós,
especialistas ou não, inquietamo-nos com o tempo excessivo que muitas crianças
e adolescentes passam sós, ou com outros "sós" do outro lado,
agarradas a um ecrã, numa espécie de teledependência e correndo, afirmam alguns especialistas um risco de um
comportamento aditivo com consequências importantes no seu bem-estar e na vida familiar.
Também na minha experiência com
pais são cada vez mais frequentes as referências a dificuldades e busca de
apoio e orientação. Também não adianta pensar que só acontece aos outros. Pode,
sem nos darmos conta, estar a instalar-se de mansinho numa criança ou
adolescente perto de nós.
Recorrendo a dados do projecto
europeu EuKids Online, 2018, o uso continuado da Internet repercute-se em 45%
das crianças portuguesas com um dos seguintes sintomas: não dormir, não comer,
falhar nos trabalhos de casa ou deixar de socializar.
Neste quadro, julgo merecer
particular atenção o impacto que esta utilização demorada tem no
desenvolvimento de crianças e adolescentes, designadamente nos hábitos e saúde
do sono.
Comer faz bem às crianças, mas
comer excessivamente e produtos de má qualidade, provoca sérios problemas de
saúde. Que se eduque o consumo, sem se diabolizar ou exaltar o produto.
Estas matérias, a presença das
novas tecnologias na vida dos mais novos, são problemas novos para muitos pais,
alguns deles com níveis baixos de alfabetização informática. Considerando as
implicações sérias na vida diária e que só estratégias proibicionistas não são
muito eficazes, importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos
pais para que a utilização imprescindível seja regulada e protectora da
qualidade de vida das crianças e adolescentes.
Sem comentários:
Enviar um comentário