No Público encontram- se
referências a uma matéria que me parece relevante e sobre a qual muitas vezes
aqui tenho escrito e referido na intervenção profissional, o acesso e
frequência do ensino superior por parte de alunos com necessidades especiais. É
focada a experiência que já aqui referi em curso na Escola Superior de Educação de Santarém com um Curso de Formação em Literacia Digital que não conferindo
grau, certifica competências e é destinado a jovens com necessidades especiais e num
outro trabalho o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior expressa a orientação política de promover mais iniciativas neste âmbito que noutros países também
existem.
A situação actual é bastante
preocupante. Aos 18 anos, após o cumprimento da escolaridade obrigatória a
grande maioria dos alunos com necessidades educativas especiais, sim
É impossível assistir sem um
sobressalto e uma inquietação a crescer nos dentes com a situação ilustrada
numa peça da SIC que pode ser vista no Expresso centrada no acontece aos alunos
com necessidades educativas especiais, sim, com, com necessidades educativas
especiais têm … nada à sua frente.
De acordo com a Direcção-Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência no ano lectivo 2016/2017 havia 87.039 alunos
com necessidades especiais inscritos nas escolas portuguesas. Muitos destes
alunos têm passado passam por experiências de sucesso independentemente do seu
perfil de competências, felizmente que assim é.
No entanto, para muitos o período
que se segue é um enorme túnel no qual poucas vezes se vislumbra uma luz,
sobretudo em situações com problemáticas mais severas designadamente quando
existem dificuldades de natureza cognitiva, a situação dos jovens a participar
no curso da ESSE de Santarém e daí, também, a sua relevância.
Desculpem a insistência e a
repetição ... mas é necessário.
Recordo que no ano lectivo 2017/2018 frequentaram o ensino superior 1644
alunos com necessidades especiais, 0,5% do total dos matriculados no ensino
superior o que evidencia o que está por fazer em matéria de equidade e
inclusão. Considerando as vagas do contingente especial para estes estudantes
apenas 14% foram ocupadas. Por outro lado, temos cerca de 98% dos alunos com NEE a frequentar as
escolas de ensino regular no período de escolaridade obrigatória o que globalmente constitui um cenário que nos deve merecer a maior atenção.
Como tantas vezes tenho dito,
aqui e nos espaços de contextos da lida profissional, a questão da presença dos
alunos começa no que é feito no ensino básico e secundário, e existe muita
matéria para reflectir e sobre as mudanças necessárias como milhares de
famílias sentem de forma dramática.
Por outro lado, é fundamental que
com clareza, sem ambiguidades ou equívocos se entenda que após a escolaridade
obrigatória os jovens, todos os jovens, têm três vias disponíveis formação
profissional, formação escolar (ensino superior) ou mercado de trabalho
(trabalho na comunidade que pode ter uma dimensão ocupacional).
A realidade mostra que os jovens
com necessidades especiais estão significativamente arredados destas vias e,
voltamos ao mesmo, em muitas circunstâncias ao abrigo de práticas e modelos de
resposta sob a capa da … inclusão. De facto, muitos deles, ficam entregados (não
integrados) às famílias ou encaminham-se para instituições onde, apesar de
algumas experiências muito positivas interessantes, se recicla a exclusão. Mas
mesmo o acesso a instituições é extraordinariamente difícil dadas as listas de
espera que regularmente são referidas.
Esta dificuldade de acesso
envolve quer a resposta no âmbito da formação profissional, quer no apoio a
situações com problemáticas mais severas.
Desculpem a enésima repetição mas
um processo de inclusão assenta em cinco dimensões fundamentais, Ser (pessoa
com direitos), Estar (na comunidade a que se pertence da mesma forma que estão
todas as outras pessoas), Participar (envolver-se activamente da forma possível
nas actividades comuns), Aprender (tendo sempre por referência os currículos
gerais) e Pertencer (sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade). A
estas cinco dimensões acrescem dois princípios inalienáveis, autodeterminação e
autonomia e independência.
As pessoas com NEE de diferente
natureza depois dos 18 anos devem ser, estar, participar e pertencer até aos
contextos que todas as outras pessoas com mais de 18 anos estão. As
instituições ou voltar para a família serão sempre um recurso e nunca uma via.
É também claro que no âmbito do
ensino superior importa que se proceda a ajustamentos de natureza diversa,
atitudes, representações e expectativas, oferta formativa, custos,
acessibilidades e apoios ou, aspecto fundamental, promover melhor articulação
com o ensino secundário.
As questões mais complexas
decorrem, os estudos e a experiência sugerem-no, das barreiras psicológicas e
das atitudes, pessoais e institucionais, seja de professores, direcções de
escola, da restante comunidade, incluindo, naturalmente, professores do ensino
básico e secundário e de "educação especial", técnicos, os alunos com
necessidades especiais e famílias.
Também é minha convicção de que
as preocupações com a frequência do ensino superior por parte de alunos com
necessidades especiais é fundamentalmente dirigida aos alunos que manterão as
capacidades suficientes para aceder com sucesso à oferta formativa tal como ela
existe. Estou a referir-me, evidentemente, aos alunos que não têm “diagnóstico”
de problemas de natureza cognitiva. Estas situações são ainda mais
representadas como … difíceis de responder.
No entanto, como tantas vezes
digo, esta preocupação deveria ser mais alargada, estamos a falar de inclusão.
Sim, frequentar o ensino superior onde estão jovens da sua idade e em que a
oferta formativa se for repensada e a experiência de vida proporcionada podem
ser importantes.
Não, não é nenhuma utopia. Muitas
experiências noutras paragens mas também por cá mostram que não é utopia como é
o caso do que acontece em Santarém com, tanto quanto conheço, resultados positivos.
O primeiro passo é o mais
difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e
entender que é assim que deve ser.
Eu já disse e escrevi isto várias
vezes e em múltiplos contextos e ocasiões. Peço desculpa mas continuarei a
fazê-lo. Os velhos são teimosos.
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