O JN deste Domingo divulgava com chamada
a 1ª página que após um tempo de diminuição, entre 2015 e 2017, em 2018 voltou
a subir a prescrição do metilfenidato, o medicamento que é referido no JN como
o "comprimido da concentração". Em 2018 verificaram-se 288 000 prescrições.
Esta medicação é usada na
terapêutica das situações de alegados problemas de comportamento,
hiperactividade, défice de atenção ou instabilidade. No entanto, é também usada
como “auxílio” aos resultados escolares sendo ainda conhecida pelo “comprimido
da inteligência”.
Recordo que em 2010 se prescreveram 133 562 unidades. É ainda de
considerar que em 2015, 63% do volume do fármaco foi usado entre os 10 e os 19
anos e 26% até aos 9 anos. Os adultos consumiram “apenas” 7% do volume total de
prescrições.
São valores impressionantes e
altamente preocupantes e que estão em linha com os dados do Infarmed que tem
alertado para o consumo do metilfenidato mais conhecido pelos nomes correntes de Ritalina,
Concerta ou Rubifen.
Retomo algumas notas pois o
consumo destes fármacos envolve muitos milhares de crianças e adolescentes.
Esta matéria tem sido objecto de
intervenções recorrentes e dada a sua relevância importa continuarmos atentos.
Já em 2015 no seu Relatório Anual,
“Estado da Educação 2015”, o Conselho Nacional de Educação relevava o preocupante consumo
desta medicação por parte de crianças e adolescentes.
Também em diferentes intervenções
públicas, especialistas como Mário Cordeiro, Gomes Pedro ou Ana Vasconcelos têm
revelado sempre uma atitude cautelosa e prudente face esta hipermedicação ou
sobrediagnóstico e alertado para os riscos destas práticas que, aliás, não se
verificam em todos os países. Este tipo de discurso, cauteloso e prudente, que
subscrevo, contrasta com a ligeireza, que não estranho, de Miguel Palha que
referia há algum tempo no Público as “centenas” de crianças que na sua clínica
solicitam “diariamente” o fármaco. A pressão enorme que envolve pais,
professores, técnicos e clínicos face ao comportamento de algumas crianças
ajuda a perceber a tentação da medicação. Aliás, o JN refere também na peça de
hoje a pressão que é criada sobre os profissionais de saúde no sentido da
prescrição.
Conheço de forma directa algumas
situações verdadeiramente preocupantes.
Sabemos todos os que lidamos com
crianças e jovens que existe um conjunto de problemas que pode afectar crianças
e adolescentes, esses problemas devem ser abordados, se necessário com
medicação, evidentemente, mas, felizmente, não são tantas as situações como por
vezes parece. Inquieta-me muito a ligeireza com que possam ser produzidos "diagnósticos" e rótulos que se colam aos miúdos, dos
quais dificilmente se libertarão e que pela banalização da sua utilização se
produza uma perigosa indiferença sobre o que se observa nos miúdos. Aliás, é
curioso perceber o que se passa noutros países.
Inquieta-me que muitos miúdos surjam medicados, chamo-lhes "ritalinizados", sem
que os respectivos diagnósticos conhecidos pareçam suportar seguramente o
recurso à medicação. A sobreutilização ou uso sem justificação do metilfenidato
e de outros fármacos terá riscos, uns já referenciados, outros em investigação.
Esta matéria, avaliar e explicar o que se passa com crianças e adolescentes, exige um elevadíssimo padrão ético e deontológico para além da óbvia competência técnica e científica. Não podemos facilitar embora compreenda e sinta que a pressão é muita, quer nos contextos familiares, quer nos contextos escolares e que os recursos, apoios e orientações são muitas vezes insuficientes.
Esta matéria, avaliar e explicar o que se passa com crianças e adolescentes, exige um elevadíssimo padrão ético e deontológico para além da óbvia competência técnica e científica. Não podemos facilitar embora compreenda e sinta que a pressão é muita, quer nos contextos familiares, quer nos contextos escolares e que os recursos, apoios e orientações são muitas vezes insuficientes.
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