Não, não é engano, é mesmo isso
que queria escrever, não era que queres ser quando fores grande. Esta
formulação talvez seja a pergunta que mais vezes é feita a miúdos e
adolescentes. Acontece que os miúdos e adolescentes chegam a grandes, na sua
grande maioria não são o que responderam à inevitável pergunta, mas a partir
daí, estranhamente, ninguém mais pergunta ou se inquieta com o que um grande
quer ser quando for velho. Acresce que hoje, felizmente, cada vez mais os
grandes chegam a velhos.
Já sendo grande há uns bons anos e
estando mesmo à beira da velhice, interrogava-me há pouco sobre que quero eu ser
quando for velho.
Bom, gostava de ser velho, ou
seja, existir enquanto velho e com a qualidade de vida física funcional.
Costumo dizer que um dos privilégios
da velhice é ter histórias para contar por isso gostava de poder contar histórias. Gostava de contar histórias aos netos e a outra gente mais nova, já não para
ensinar, ensinar é tarefa para grandes, pais e professores, não é para velhos, mesmo
professores velhos. As histórias dos velhos são para ouvir e conversar, não são
para aprender.
Outro privilégio que a velhice
traz é assim uma espécie de inimputabilidade, podemos dizer e fazer coisas
estranhas que as pessoas aceitam e dizem de forma condescendente, é velho, às
vezes até acham graça. Deve ser bom poder dizer e fazer, quase, o que nos vem à
cabeça. Quando for velho quero ser assim.
Quando for velho quero ter o
tempo, não o tempo do dever, mas o tempo do querer, embora acredite que quando
se é velho o tempo parece mais pequeno. Também gostava que os que foram pequenos
ao pé de mim fossem permanecendo por perto mesmo que, eventualmente longe.
Não parece assim grande coisa,
mas eu acho que os velhos só ligam ao essencial.
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