sexta-feira, 12 de abril de 2019

DOS PROFESSORES


Conforme é habitual sempre que abre um concurso para admitir no quadro do ME professores que já desempenham funções como contratados, ou seja, “descartáveis”, o número de candidatos é muitíssimo superior ao número de vagas a concurso. Este ano, para 542 contabilizam-se mais de 50 000 candidaturas a que não corresponde exactamente ao número de candidatos pois alguns docentes podem leccionar diferentes disciplinas.
Importa sublinhar que a generalidade destes docentes possui uma enorme experiência de trabalho sempre em regime descartável, sujeito a avaliação e com horários completos.
A média de idades dos que agora procuram encontrar finalmente alguma estabilidade é elevadíssima contando-se 353 docentes com mais de 60 anos.
Esta situação é mais uma preocupante evidência da deriva que tem sido a gestão do número de professores necessários ao sistema educativo. Como já tenho referido, parece claro que a questão do número de professores necessário ao funcionamento adequado do sistema é uma matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e gestão, tudo o que tem faltado. 
Nos últimos anos muitos milhares de professores foram empurrados para fora do sistema frequentemente com base na baixa da demografia escolar que sendo real não explica o êxodo que se verificou. Boa parte dos docentes saiu por desânimo, cansaço, desvalorização profissional, etc.
Por outro lado temos uma classe docente ainda no activo que está envelhecida e profundamente desgastada.
Recordo um trabalho recente da OCDE, “Reviews of School Resources: Portugal 2018” que sublinha algo que tem vindo ser questionado nos últimos anos, designadamente nos dados divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e em estudos do CNE, o envelhecimento brutal da classe docente e as potenciais consequências negativas e que se agrava a cada ano que passa. Como já escrevi, num país preocupado com o futuro o cenário existente faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em conformidade.
Alguns indicadores do relatório “Perfil do Docente”, produzido pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência relativo ao ano 2016/2017 e base da informação da OCDE.
No universo da educação pré-escolar apenas 13 profissionais da rede pública têm menos de 30 anos, 0.1%, enquanto 6034 educadores de infância, 74% têm 50 ou mais anos. No 1º ciclo no sistema público, entre 24 435 docentes apenas 16 têm menos de 30 anos, 0.1% do total. Do outro lado, 38%, 9298 têm 50 ou mais anos.
No 2º ciclo, temos 19 398 docentes dos quais 872 têm menos de 30 anos, 4.5% e 10271 com 50 anos ou mais, 53%.
No 3º ciclo e secundário, em 63473 professores temos 290 com menos de 30 anos, 0.5%, e 30242 com 50 anos ou mais, 48%.
Um outro indicador, a idade média, mostra que na educação pré-escolar é de 52 anos, no 1º ciclo 47 anos, no 2º ciclo 50 anos e no 3º ciclo e secundário 49 anos.
Se considerarmos o grupo de professores com 40 anos ou mais, temos 96% na educação pré-escolar, 78% no 1º ciclo, 87% no 2º ciclo e 86% no 3º ciclo e secundário.
No ensino privado o perfil de docentes no que respeita à idade é menos envelhecido.
Importa ainda reconhecer que diferentes trabalhos têm evidenciado uma classe níveis críticos de exaustão emocional e um número elevado de docentes em situação de baixa médica.
Este é um cenário verdadeiramente preocupante.
Por outro lado e por várias razões, como seria previsível começa a notar-se a falta de docentes em alguns grupos disciplinares, muitas escolas têm experimentado dificuldades em colmatar vagas ou substituições
Apesar da justiça de que se reveste a entrada nos quadros de professores e esperamos que ela seja mesmo justa, creio que continua a acentuar-se a imprescindível e urgente necessidade de renovar a classe docente.
Sabemos que os velhos não sabem tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida, cansada e pouco apoiada que muitas vezes pergunta "Quanto tempo é que te falta?"

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