Conforme é habitual sempre que
abre um concurso para admitir no quadro do ME professores que já desempenham
funções como contratados, ou seja, “descartáveis”, o número de candidatos é
muitíssimo superior ao número de vagas a concurso. Este ano, para 542
contabilizam-se mais de 50 000 candidaturas a que não corresponde exactamente
ao número de candidatos pois alguns docentes podem leccionar diferentes
disciplinas.
Importa sublinhar que a generalidade
destes docentes possui uma enorme experiência de trabalho sempre em regime
descartável, sujeito a avaliação e com horários completos.
A média de idades dos que agora
procuram encontrar finalmente alguma estabilidade é elevadíssima contando-se 353 docentes com mais
de 60 anos.
Esta situação é mais uma
preocupante evidência da deriva que tem sido a gestão do número de professores
necessários ao sistema educativo. Como já tenho referido, parece claro que a questão do número de professores necessário ao funcionamento adequado do sistema é uma matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige serenidade, seriedade, rigor e competência na sua análise e gestão, tudo o que tem faltado.
Nos últimos anos muitos milhares
de professores foram empurrados para fora do sistema frequentemente com base na
baixa da demografia escolar que sendo real não explica o êxodo que se
verificou. Boa parte dos docentes saiu por desânimo, cansaço, desvalorização
profissional, etc.
Por outro lado temos uma classe
docente ainda no activo que está envelhecida e profundamente desgastada.
Recordo um trabalho recente da OCDE,
“Reviews of School Resources: Portugal 2018” que sublinha algo que
tem vindo ser questionado nos últimos anos, designadamente nos dados divulgados
pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e em estudos do CNE,
o envelhecimento brutal da classe docente e as potenciais consequências
negativas e que se agrava a cada ano que passa. Como já escrevi, num país
preocupado com o futuro o cenário existente faria emitir, como agora se usa, um
alerta vermelho e agir em conformidade.
Alguns indicadores do relatório
“Perfil do Docente”, produzido pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação
e Ciência relativo ao ano 2016/2017 e base da informação da OCDE.
No universo da educação
pré-escolar apenas 13 profissionais da rede pública têm menos de 30 anos, 0.1%,
enquanto 6034 educadores de infância, 74% têm 50 ou mais anos. No 1º ciclo no
sistema público, entre 24 435 docentes apenas 16 têm menos de 30 anos, 0.1% do
total. Do outro lado, 38%, 9298 têm 50 ou mais anos.
No 2º ciclo, temos 19 398
docentes dos quais 872 têm menos de 30 anos, 4.5% e 10271 com 50 anos ou mais,
53%.
No 3º ciclo e secundário, em
63473 professores temos 290 com menos de 30 anos, 0.5%, e 30242 com 50 anos ou
mais, 48%.
Um outro indicador, a idade
média, mostra que na educação pré-escolar é de 52 anos, no 1º ciclo 47 anos, no
2º ciclo 50 anos e no 3º ciclo e secundário 49 anos.
Se considerarmos o grupo de
professores com 40 anos ou mais, temos 96% na educação pré-escolar, 78% no 1º
ciclo, 87% no 2º ciclo e 86% no 3º ciclo e secundário.
No ensino privado o perfil de
docentes no que respeita à idade é menos envelhecido.
Importa ainda reconhecer que
diferentes trabalhos têm evidenciado uma classe níveis críticos de exaustão
emocional e um número elevado de docentes em situação de baixa médica.
Este é um cenário verdadeiramente
preocupante.
Por outro lado e por várias
razões, como seria previsível começa a notar-se a falta de docentes em alguns
grupos disciplinares, muitas escolas têm experimentado dificuldades em colmatar
vagas ou substituições
Apesar da justiça de que se
reveste a entrada nos quadros de professores e esperamos que ela seja mesmo justa, creio que continua a acentuar-se a imprescindível e urgente necessidade de renovar
a classe docente.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada e pouco apoiada que muitas vezes pergunta "Quanto tempo é que te
falta?"
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