A imprensa de hoje refere a experiência em desenvolvimento
nas escolas do concelho de Odivelas da organização do ano escolar em semestres e
não como habitualmente em três períodos. Outros agrupamentos e escolas do país
também seguem esta organização e no caso de Odivelas a avaliação parece ser positiva
pelo que assim deverá continuar a acontecer. O ME admite que com base na
avaliação das experiências em desenvolvimento possa acontecer que ao abrigo da
autonomia das escolas se alargue a utilização deste modelo.
Como é sabido um dos argumentos que sustenta a
semestralização no ensino básico e secundário prende-se com a dependência da
definição dos períodos escolares de uma festa móvel, a Páscoa, o que condiciona
fortemente o calendário criando regularmente uma assimetria que é pouco amigável para o trabalho de professores e alunos.
Também neste ano lectivo a duração dos períodos está
desequilibrada levando em que em anos de exame o terceiro período tenha cerca
de um mês útil de aulas.
Já em 2016 a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos
e Escolas Públicas sustentava que a organização do ano lectivo deveria ser em
dois semestres e não em três períodos como actualmente. A proposta, afirma,
minimizaria os efeitos das assimetrias de duração entre os períodos, seria
positiva para a organização das escolas e a existência de dois intervalos de
avaliação dos alunos é mais positiva em termos escolares que o modelo actual
embora, do meu ponto de vista, a questão da avaliação não se reduza ao “número
de momentos” mas a todo o processo tal como estará a ser considerado no projecto de Odivelas.
Julgo e também já o tenho afirmado que esta questão deveria
ser repensada. Aliás, os tempos da escola justificariam ser globalmente
repensados.
Se bem se recordam, também em 2016 o blogue ComRegras
promoveu em 2016 um inquérito dirigido a directores de escolas e agrupamentos
no qual 54.1% dos 181 directores que responderam concordava que o ano escolar
seja organizado em dois semestres e não nos habituais três períodos de aulas.
Como já tenho referido, não tenho uma posição fechada e
fundamentada sobre as eventuais vantagens sendo certo que existem outros
sistemas em que se verifica o modelo semestral.
No entanto, creio que mesmo numa organização em três
períodos a situação que suscita mais dúvidas é o desequilíbrio que
frequentemente se verifica na duração dos períodos e que se repete de forma
muito evidente no próximo ano lectivo.
Parece claro que esta situação não é a mais adequada e julgo
ser de considerar um modelo semestral embora mesmo no modelo actual e sabendo
que não é fácil mudar a tradição, mudar nunca é fácil, talvez fosse de tentar
que o calendário escolar não esteja colado a festividades móveis.
No entanto, creio que vale a pena reflectir nestas matérias,
ouvindo a participação dos vários actores, avaliando as experiências em
desenvolvimento e as suas implicações, designadamente nos processos de avaliação,
estudando experiências de outros sistemas e, eventualmente, de uma forma
tranquila, oportuna no tempo, repensar o calendário escolar.
Nesta reflexão deveria estar incluída a discussão dos
benefícios e eventuais efeitos negativos da criação de uma “pausa” a meio do
primeiro período (ou de cada semestre) modelo existente em vários países e que
em Odivelas também acontece.
Creio mesmo que seria desejável que pudéssemos reflectir de
forma global os tempos da escola considerando outros aspectos como a
organização de anos e ciclos, o número de disciplinas ou áreas disciplinares, o
tempo de estadia dos alunos no contexto escolar, etc.
Considerando este último aspecto recordo que a Confap já tem
defendido onze meses de actividade na escola. Sendo a guarda das crianças um
problema sério e que reconheço, também entendo que não pode ser resolvido
prolongando até ao “infinito”, a infeliz ideia de “Escola a Tempo Inteiro”, a
estadia dos alunos na escola. A “overdose” é sempre algo de pouco saudável.
Neste contexto, parece-me interessante que se reflicta sobre
os tempos da escola e os tempos na escola.
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