Nesta altura em que decorre o período de candidaturas ao ensino superior são recorrentes os discursos e a divulgação de dados sobre a empregabilidade. Identificam-se algumas áreas de baixa ou difícil empregabilidade e apontam-se outras com melhores perspectivas de emprego.
Antes de entrar no ponto que hoje me interessa focar, duas notas. Em primeiro lugar, é notório que existem áreas em que a oferta de formação é claramente excessiva. Como muitas vezes já aqui referi, a responsabilidade decorre da negligência e da demissão da tutela política da regulação da oferta de formação de nível superior, pública e privada, universitária e politécnica. Seria de exigir que essa função de regulação fosse cumprida minimizando as consequências do enviesamento da oferta e da impossível qualidade de toda a que existe.
Uma segunda nota para, repito-o pela enésima vez, chamar a atenção para o facto de termos metade da média europeia de pessoas com formação superior. Não podemos produzir discursos que levem os jovens ou adultos a entender que uma formação de nível superior é um passaporte para o desemprego, é um discurso suicidário.
Dito isto, creio que nesta altura se deve sublinhar que a imprescindível informação sobre o nível de empregabilidade do curso que se desejaria fazer é apenas, repito, apenas, um dos critérios de escolha a ter em conta. Parece-me absolutamente estranho que alguém abdique de um projecto de vida dedicado a algo de que gosta e em que se imagina a trabalhar porque pode não encontrar emprego depois da formação. É absolutamente legítimo e desejável que alguém assuma o sonho de ter a profissão que o atrai e motiva, a entrada no mercado de trabalho virá depois. Muitas pessoas que clamam pela sobrevalorização da empregabilidade não teriam, certamente, abdicado do percurso que fizeram mesmo se, quando o iniciaram, soubessem que o emprego não estava garantido, ou mesmo, seria difícil.
Assim, parece-me que, para além da empregabilidade, mesmo em áreas identificadas como de baixa saída, importa estar informado sobre a qualidade das instituições formadoras, corpo docente e credibilidade por exemplo, ou sobre a natureza, conteúdos e opções em matéria de currículos e diversidade de formação.
Só alguns, poucos, receberão por mérito ou outros motivos não despiciendos em Portugal, a designada "golden call", ou seja, um telefonema à saída do curso a oferecer um excelente emprego. Todos os outros terão de lutar pelo seu sonho, começando pelo direito a tê-lo.
3 comentários:
Professor, quis mesmo dizer "passaporte para o emprego"?
Abraço, Jorge.
Não há como gente atenta,
Obrigado e um abraço
De nada! ;)
Um abraço e boas férias.
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