sexta-feira, 16 de julho de 2010

MIÚDOS COM FOME, OLHEM QUE EXISTEM

Os dados do INE sobre condições de vida, a que ontem me referi e que o Público hoje chama para primeira página, identifica as crianças e os desempregados como os grupos mais vulneráveis ao risco de pobreza. Não é novo, apenas se confirma a situação. Os dados do INE também analisam o impacto das transferências sociais no risco e situação de pobreza. Desde a discussão do PEC que me parece um ataque à inteligência e à dignidade das pessoas o peso colocado na redução dos custos com políticas sociais como forma de equilibrar as contas públicas.
Hoje, outra notícia que, lamentavelmente, já não surpreende mas que exige atenção.
O Governo manifestou a intenção de cortar nos apoios para alimentação das crianças que frequentam ATLs de Instituições de Solidariedade Social. Ouvi na rádio que existirão em algumas situações eventuais sobreposições de apoios vindo do ME e da Segurança Social. Se tal se verificar que se corrija, mas é impensável, sabendo-se a situação de enorme vulnerabilidade em que milhares de crianças vivem, ameaçar o seu direito à alimentação. Certamente que alguns dos decisores não sabem que existem muitas crianças que têm como única refeição digna desse nome a que usufruem nos ATLs.
Não me orgulho particularmente disto, mas não acredito que gente que tem sido parte do problema venha a ser parte da solução. Ninguém, apesar da retórica, está verdadeiramente interessado em medidas que equilibrem as contas públicas da forma acertada, reformar a organização do estado, autarquias e governos civis por exemplo, ou promover equidade fiscal, designadamente no IRC (a banca continua e continuará independentemente do governo que se instale em situação de escandaloso benefício). Ninguém está verdadeiramente interessado em eliminar as centenas de organismos, entidades, fundações, empresas municipais inúteis e consumidoras de milhares de milhões. Ninguém está verdadeiramente interessado em emagrecer gabinetes e organismos onde se atropelam as clientelas dos aparelhos partidários. Esta situação foi alimentada e promovida por todos os partidos que já ocuparam poder, repito, por todos os partidos.
Não estou muito optimista de que do actual quadro político, a partidocracia, possa emergir uma solução, creio que só uma renovação da participação cívica dos cidadãos, desconfiados e descrentes na classe política, poderá, creio, pressionar a mudança.
No entanto, quanto mais não seja por uma questão de dignidade e solidariedade, bens em desuso nas tomadas de decisão política, não ameacem mais o bem-estar dos miúdos.
Talvez não saibam mas há miúdos que passam fome, vão crescer mal.

1 comentário:

Joaquim Ferreira disse...

Sou anti-governo. Mas não aceito tudo que se diz. Uma senhora Andreia , Funchal (16.07.2010 16:25) disse noutra notícia sobre o tema que "na Madeira todas as crianças que tenham escalão de abono acima do 2º não têm direito à Acção Social..." Ora Muito bem... Se já recebem abono e nem deviam, para quê pagar-lhes a comida? Se estivessem em casa, não comiam? E nas férias? Vão comer à cantina da escola? Que treta... Ataca-se tudo e todos sem pensar... Somos portugueses. Somos assim... É o destruir pelo simples facto de desejar destruir... Não Não Calarei a Minha Voz Até que o Teclado se Rompa!