No tempo áspero de calor que se instalou as sombras são um bem precioso, sobretudo as sombras das árvores que com a agitação da folhagem, mesmo branda, fazendo o ar andar, as tornam mais frescas. Lamentavelmente, em muitas zonas das nossas terras as árvores estão em vias de extinção.
É um aconchego encontrar uma sombra fresquinha que nos faz parar e ficar um bocadinho a gozar. Quando nos sentimos bem parece que estamos assim a uma sombra fresca num dia de verão. Às vezes digo que o bem-estar dá sombra para dentro de nós no verão e calor no inverno, é assim uma espécie de regulador climático individual.
A questão, se estivermos atentos, é que existem miúdos que de mal que se sentem, não conseguem neste tempo pesado de calor projectar uma sombra para dentro que os faça sentir melhor. Muitos deles ainda se agitam mais e zangam-se com o mundo, muito calor e poucas sombras deixam-nos mal dispostos tanto mais quanto a nossa sombra, o bem-estar, seja menor.
É nesta altura que mais se nota a falta de adultos atentos por perto. Os adultos atentos, sendo mais altos, quase sempre, poderão proporcionar alguma sombra a que esses miúdos se acolham e lhes arrefeça o mal-estar.
O problema é que muitos de nós, adultos, também desesperamos por uma sombra que nos proteja. Quando não se tem sombra para si, fica mais difícil dar sombra fresca para os outros.
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