sábado, 24 de julho de 2010

ESCOLAS GRANDES, ESCOLAS PEQUENAS, DE NOVO

Já por diversas vezes aqui me referi à questão da rede escolar e da dimensão das escolas. Face à decisão definitiva que parece ser assumida pelo ME na linha do “manda quem pode obedece quem deve”, princípio político em vigor, volto à questão.
Durante décadas de Estado Novo, tivemos um país ruralizado e subdesenvolvido. Em termos educativos e com a escolaridade obrigatória a ideia foi “levar uma escola onde houvesse uma criança”. Tal entendimento minimizava a mobilidade e a abertura sempre evitadas. No entanto, como é sabido, os movimentos migratórios e emigratórios explodiram e o interior entrou em processo de desertificação o que, em conjunto com a decisão de política educativa referida acima, criou um universo de milhares de escolas sobretudo no 1º ciclo, pouquíssimos alunos. Como se torna evidente e nem discutindo os custos de funcionamento e manutenção de um sistema que admite escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se tal sistema favorece a função e papel social e formativo da escola. Creio que não e a experiência e os estudos revelam isso mesmo, escolas demasiado pequenas não proporcionam necessariamente melhores resultados. Neste quadro emerge a necessidade de redimensionar a rede de escolas.
É também verdade que muitas vezes se afirma que a “morte da escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que será, pelo menos de considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e social possam começar a matar as aldeias e, em consequência, liquidam os equipamentos sociais, e não afirmar sem dúvidas o contrário.
No entanto, o processo de reordenamento da rede não pode ser realizado de forma administrativa e “cega”. Em primeiro lugar importa ponderar aspectos de natureza contextual, bem diferenciados nas diferentes zonas do país, como distância a percorrer, tipo de percurso e apoio logístico, condições obviamente importantes.
Aceitando, assim, o princípio da necessidade de ajustamentos na rede, importaria analisar os cenários desejáveis. O ME estabelece como média os 1700 alunos e como limite os 3000. Estes números são completamente comprometedores da qualidade e, portanto, inaceitáveis.
Conforme o Público referiu num importante trabalho há dias divulgado a dimensão excessiva da escola é um problema identificado, de há muito que se sabe que um dos factores mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de disciplina é o efectivo de escola. Não é certamente por acaso, ou por desperdício de recursos, que os melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia outra vez, e agora os Estados Unidos na luta pela requalificação da sua educação optam por estabelecimentos educativos que não ultrapassam a dimensão média de 500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito que o efectivo de escola está mais associado aos problemas que o efectivo de turma, ou seja, simplificando, é pior ter escolas muito grandes que turmas muito grandes.
É fundamental que a comunidade tenha consciência deste universo de modo a tentar travar o movimento de construção de autênticos barris de pólvora e contextos educativos que dificilmente promoverão sucesso e qualidade apesar do esforço de professores alunos, pais e funcionários.
Não conheço nenhuma justificação de natureza educativa que sustente a existência vantajosa de escolas para crianças e adolescentes com 1500 lugares ou mais. A razão para a sua criação só pode, pois, advir da vontade de controlo político do sistema, menos escolas envolvem menos directores ou de questões economicistas que a prazo se revelarão com custos altíssimos pela ineficácia e problemas que se levantarão.
Há dias perguntava se ainda iríamos a tempo. Hoje creio que talvez não. É preocupante.

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