terça-feira, 6 de julho de 2010

MEDIR MAIS VEZES A FEBRE NÃO A FAZ BAIXAR

De novo, é recorrente, as vozes que clamam por mais exames como forma de promover qualidade, exigência e rigor no sistema educativo. Agora é o CDS-PP, não é a primeira vez, que quer transformar as provas de aferição do 4º e 6º anos em exames nacionais. As provas de aferição têm como objectivo fundamental fornecer indicadores sobre a eficácia do sistema o que me parece importante. Os alunos prestam estas provas e, se funcionar como se espera, os resultados servirão de regulador ao trabalho desenvolvido pelas escolas. Conhece-se a tentação de se facilitarem os dispositivos de avaliação para inflacionar resultados. Este risco continua presente, é óbvio, em exames nacionais como, aliás, está patente nas discussões aquando da sua realização.
Neste quadro, não vejo vantagens, independentemente dos custos, na introdução de mais exames como forma de melhorar a qualidade. Esta ideia parece decorrer da estranha convicção de que se medir muitas vezes a febre, esta irá baixar o que é, no mínimo, ingénuo.
A qualidade promove-se, é certo, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc. O problema é que de há muitos anos a educação anda à deriva das agendas políticas.
A defesa de mais exames, como muitas vezes é feita, este é mais um exemplo, corre o risco de sustentar um discurso demagógico, as referências a exigência e a rigor vendem bem, que deixa de lado os aspectos mais essenciais.

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