Em entrevista ao Expresso a Ministra Isabel Alçada aborda a questão dos chumbos e a sua ineficácia genérica como promotor de qualidade. De imediato se levanta o alarido do costume sempre que se fala de chumbos. Diz-se a Ministra quer acabar com os chumbos. É evidente que se pode decretar que não existem chumbos, mas isso é delinquência política e ética, não creio ser isso que está na intenção da Ministra. Do meu ponto de vista a ministra enuncia bem o problema. Já muitas vezes aqui tenho referido que estudos internacionais mostram que Portugal tem ao mesmo tempo, surpreendentemente para alguns, níveis altíssimos de insucesso e níveis altíssimos de “chumbos”. No mesmo sentido, parece importante sublinhar que vários dos países com mais altas taxas de sucesso escolar não prevêem na organização dos seus sistemas a figura chumbo, sobretudo para alunos mais novos. Não se prova, portanto, a ideia de que reprovar mais produz mais sucesso. Escapa-me a insistência no chumbo como forma de promover qualidade.
Os estudos internacionais também mostram que os alunos que começam a chumbar, tendem a continuar a chumbar, ou seja, a simples repetição do ano, não é para muitos alunos, suficiente para os devolver ao sucesso. Os franceses utilizam a fórmula “qui redouble, redoublera” quando referem esta questão.
Nesta conformidade, a questão central não é o chumba, não chumba e quais os critérios (quantas disciplinas, por exemplo) é que tipo de apoio, que medidas e recursos devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. É necessário diversificar percursos de formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com formação profissional.
É neste quadro que gostava de acreditar que quando a Ministra fala de criar os dispositivos de apoio a alunos e professores que substituam com vantagem a decisão do chumbo, tal cenário fosse uma realidade.
É “só” isto que está em causa. O resto é demagogia, política de segunda e ignorância. Insisto, somos o país que mais chumba e o que piores resultados obtém.