Com uma ponta de saudade estava há pouco lembrar-me, não sei dizer porquê, dos meus tempos de escola primária a propósito da minha grande paixão dessa época, a bola de futebol. Não era fácil para a maioria de nós termos bolas de futebol a sério, na maior parte das vezes jogávamos com a velha bola de trapos. A partir de certa altura começaram a aparecer uns cromos que vinham nuns rebuçados intragáveis que a D. Maria do Lugar vendia e no fundo da lata estava um rebuçado que dava direito a uma bola que chamávamos de cautchu. De vez em quando, conseguíamos algumas economias, resultantes de juntar cobre e latão que vendíamos no ferro-velho e íamos em grupo “arrematar” a lata, isto é comprar todos os rebuçados que ainda estavam na lata e aceder, assim, à bola de cautchu. A bola ficava cada dia em casa de um de nós. Quando chegava a minha vez ela dormia ao lado da minha almofada. E eu sonhava a noite toda com a “minha” bola de cautchu. Foram uns tempos tão bonitos.
Marquei golos fantásticos nos melhores campos do mundo. Até cheguei a jogar no campo do Real Madrid, onde marquei um golo depois de fintar a equipa adversária quase toda. Lembro-me tão bem, o Puskas abraça-me e diz-me “boa miúdo”. E aquela gente toda a aplaudir. Nestes sonhos que a minha bola de cautchu me proporcionava só não gostava da forma como quase sempre acabavam, a voz do meu pai a avisar-me para me levantar para ir para a escola, com a minha bola de cauchu debaixo do braço, é claro.
Marquei golos fantásticos nos melhores campos do mundo. Até cheguei a jogar no campo do Real Madrid, onde marquei um golo depois de fintar a equipa adversária quase toda. Lembro-me tão bem, o Puskas abraça-me e diz-me “boa miúdo”. E aquela gente toda a aplaudir. Nestes sonhos que a minha bola de cautchu me proporcionava só não gostava da forma como quase sempre acabavam, a voz do meu pai a avisar-me para me levantar para ir para a escola, com a minha bola de cauchu debaixo do braço, é claro.
Ninguém entrava na escola tão bem acompanhado como eu.
4 comentários:
Ena pá, o que eu quis ter uma bola-de-cátchu (e nunca soube ao certo como se escrevia o que chamávamos à bola, mas achava que era assim!!)...
Levei sempre com um: "se o Bruno e o Pedro têm, não precisas de comprar... Quando a deles se estragar, compramos-te uma"... E o dia nunca chegava!
Mas a verdade é que chegar à escola com uma bola fazia toda a diferença...
um abraço
já tenho 63 anos e estava práqui a tentar vêr como se escreve o nome dessa Bola "cautchu" pensava eu ser càtechumbo ehehehehhe
Bonito texto, mais ainda para quem viveu esses tempos. Geralmente de nenhuma abastança, mas não sei porquê, a vida tinha mais encanto mesmo na hora da chegada. A bexiga de porco salgada, seca e retirando depois aquelas aparas, a "bola" ficava quase lisa e até saltava, ao contrário das "bolas" de trapo, que melhor seriam com uma meia envolta "um luxo". As cabeças dos fogões a petróleo não inutilizadas, eram uma boa fonte de receita, vejam só, 5 tostões (1/2 pirolito) mas para os mais pequenos era uma árdua tarefa empurrar o berlinde até vencer a pressão do gás. Eram bons e por vezes uma prenda para quem passava de classe. Havia segurança, podia-se brincar sem medo, sem os medos de agora onde a maldade está sempre à espreita. Nem sequer se falava em preservar o ambiente, não havia necessidade, e até as necessidades para muitos era no campo onde ter um papel de jornal era luxo. Muitos luxos haviam nessa altura: as maçãs como as de antes perfumavam uma casa, melancia que tinha sabor e bem cheirosa, almece que tinha gosto e cheiro como nenhum de hoje, a manteiga de vaca vendida às quartas nunca mais passou pelo estreito de ninguém, pêssegos que cheiravam e sabiam a pêssego (os últimos havia-os em Montargil). Até as pessoas eram diferentes, eram melhores embora com "os olhos mais fechados", mas infelizmente quando são abertos, mais existe a apetência pela ganância do vil metal. Alto aí! nem tudo eram rosas!!!
Sem palavras. Li em todos poesia de memória aqui lembrada. Também li a propósito de procurar como se escreve
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