A Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência divulgou dados relativamente ao percurso dos alunos dos cursos científico-humanísticos e dos cursos profissionais ao longo dos últimos anos.
Alguns dados. Em 21/22, 79% dos alunos completaram o secundário nos três anos face a 55% verificado em 14/15 um salto de 24%. Também nos cursos profissionais se registou uma subida, 70% concluíram o curso no tempo esperado, mais 17% que em 14/15. No Norte e Centro “chumba-se” menos registando-se taxas de sucesso de 85% e 82% respectivamente.
Nos cursos profissionais também
se verificaram subidas das taxas de sucesso, maiores no Norte e Área Metropolitana
de Lisboa com 2% e uma região estagnada, o Alentejo.
Regista-se também uma ligeira melhoria nas taxas de abandono embora seja ainda significativo nos cursos profissionais, 10%. Sem surpresa, o nível de sucesso é superior nos alunos que chegam sem retenções ao secundário assim como os alunos que não são abrangidos Acção Social Escolar evidenciam percursos de sucesso com desempenho mais elevado.
Mais uma vez fico embaraçado com
os dados disponibilizados pela DGEEC assentes nas avaliações internas.
Seria suposto ficar satisfeito
com a evolução verificada, mas as incongruências entre as avaliações internas e
os dados das avaliações externas suscitam dúvidas nessa satisfação e a situação
verifica-se logo durante o básico, como recentemente foi verificado considerandos
dados das avaliações internas, provas de aferição e estudos do IAVE.
No que diz respeito ao
secundário, diminuiu o número de exames finais, apenas se realizando para
acesso ao superior. Acresce que mesmo nos exames que se realizam temos sempre a
incontornável discussão da dificuldade dos exames.
Este cenário mina a confiança no
sistema educativo.
Considerando como indicador os
percursos de sucesso, concluir o ciclo no tempo esperado, coloca-se a questão
que já aqui tenho abordado. Poderemos interpretar a transição de ano como
sucesso na aprendizagem de competências e conhecimentos ou teremos de
considerar que ter sucesso é a “a passagem de ano” na velha fórmula de
“transita, mas não progride”?
De facto, como referi, é clara a
incongruência entre avaliações internas e externas que constituem uma ferramenta
imprescindível de regulação do sistema e que deveriam merecer toda a confiança.
Já aqui tenho abordado a questão a propósito de resultados de outros anos
escolares.
Importa sublinhar com muita
clareza que levantar esta questão não significa a defesa da retenção como
ferramenta de sucesso e qualidade. Não é, sabemos que o “chumbo”, só por si,
não gera sucesso e qualidade. Nenhuma dúvida sobre isto.
E volto a insistir. A qualidade
promove-se, é certo e deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das
aprendizagens e com regulação externa, sim, naturalmente, mas também com a
avaliação justa e competente do trabalho dos professores e das escolas, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado
das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar e que significam
conhecimentos e competências adquiridas.
É o que ainda não conseguimos
fazer acontecer de forma consistente, generalizada e sustentada em Portugal,
apesar da imensidade de projectos, iniciativas, inovação, actividades que,
demasiadas vezes chegam do exterior às escolas, podem ser interessantes … mas
não são mágicos, por mais que num exercício de "wishful thinking" os
queiramos entender e vender como tal.
Não será este o caminho.
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