No Público lê-se que 3520 docentes entram na reforma durante este ano, o número mais elevado nos últimos dez anos. Se considerarmos que em 2022 se reformaram 2441 docentes, o aumento para este ano é de 57%.
A peça aborda também a relação
com a demografia escolar, redução de alunos, e as necessidades de docentes para
os próximos anos, matéria que já aqui abordei e que o ME parece enfrentar num caminho
que inquieta face ao risco de desprofissionalização.
Este cenário estava estudado e
previsto há já alguns anos, mas as políticas públicas não acautelaram os
efeitos do envelhecimento da população docente e a consequente e imperiosa
necessidade de professores.
Aliás, as políticas seguidas em
matéria de educação também contribuíram para o cansaço, desencanto e desejo de
abandono da profissão que se foi instalando em muitos docentes e a baixa
atractividade que inibiu a motivação pela carreira, única forma de a rejuvenescer.
A propósito, relembro que há já
uns anos, uma professora, na altura minha aluna de doutoramento me perguntava,
com um ar meio sério, meio a brincar, se podia desenvolver a sua tese a partir
de uma questão que considerava a mais ouvida nas salas de professores, quando
no meio da burocracia e das actividades ainda havia tempo para passar na sala
de professores, “quanto tempo é que te falta?”. A sua ideia não foi para a
frente enquanto doutoramento, mas o que lhe está subjacente é bem claro e bem
preocupante. O resultado está à vista.
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais valorização nas diferentes
dimensões e apoio deveria merecer. Não adianta o discurso da “igualdade”, da
“justiça” que mascara a essência ética de que nada mais justo e equitativo que
o respeito pela diferença. Do seu trabalho competente e valorizado depende o
nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
Qual é parte que não se percebe?
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