sexta-feira, 10 de novembro de 2023

"QUANTO TEMPO É QUE TE FALTA?"

 No Público lê-se que 3520 docentes entram na reforma durante este ano, o número mais elevado nos últimos dez anos. Se considerarmos que em 2022 se reformaram 2441 docentes, o aumento para este ano é de 57%.

A peça aborda também a relação com a demografia escolar, redução de alunos, e as necessidades de docentes para os próximos anos, matéria que já aqui abordei e que o ME parece enfrentar num caminho que inquieta face ao risco de desprofissionalização.

Este cenário estava estudado e previsto há já alguns anos, mas as políticas públicas não acautelaram os efeitos do envelhecimento da população docente e a consequente e imperiosa necessidade de professores.

Aliás, as políticas seguidas em matéria de educação também contribuíram para o cansaço, desencanto e desejo de abandono da profissão que se foi instalando em muitos docentes e a baixa atractividade que inibiu a motivação pela carreira, única forma de a rejuvenescer.

A propósito, relembro que há já uns anos, uma professora, na altura minha aluna de doutoramento me perguntava, com um ar meio sério, meio a brincar, se podia desenvolver a sua tese a partir de uma questão que considerava a mais ouvida nas salas de professores, quando no meio da burocracia e das actividades ainda havia tempo para passar na sala de professores, “quanto tempo é que te falta?”. A sua ideia não foi para a frente enquanto doutoramento, mas o que lhe está subjacente é bem claro e bem preocupante. O resultado está à vista.

Na verdade, ser professor é uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das mais difíceis e que mais valorização nas diferentes dimensões e apoio deveria merecer. Não adianta o discurso da “igualdade”, da “justiça” que mascara a essência ética de que nada mais justo e equitativo que o respeito pela diferença. Do seu trabalho competente e valorizado depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.

Qual é parte que não se percebe?

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